Conta a lenda que D. Ramiro, alcaide do Castelo de Almourol, voltando exausto e cheio de sede de uma das suas sortidas de guerra, encontrou duas formosas mouras, mãe e filha, que traziam com elas uma bilha de água. D. Ramiro ordenou bruscamente à rapariga que lhe desse de beber mas, assustada, a moça deixou cair a bilha. Então, bruto e fero, D. Ramiro matou-as.
Nesse momento apareceu um rapazinho, filho e irmão das assassinadas. O cavaleiro logo ali o fez cativo e trouxe-o para o castelo. O pequeno mouro jurou que se vingaria na mulher e na filha de D. Ramiro, duas damas muito belas.
Passaram-se anos e a mulher do castelão definhou e acabou por morrer, vítima de venenos que o mouro lhe foi dando ao longo do tempo. Aconteceu, porém, que Beatriz e o jovem se enamoraram, paixão contra a qual o mancebo lutou desesperadamente mas em vão, pois tal amor lhe impedia de consumar a sua vingança.
Desgostoso pela morte da mulher, D. Ramiro voltou a procurar na luta contra os infiéis, refrigério para a sua desdita e partiu confiando a guarda da sua filha ao jovem mouro, que fizera seu pagem, dada a docilidade e cortesia que o mesmo sempre astuciosamente revelara.
Um dia, D. Ramiro chegou ao Castelo na companhia de outro alcaide, a quem tinha prometido a mão de sua filha. Os jovens apaixonados, inconformados com a sorte que os esperava, desapareceram como que por encanto.
D. Ramiro morreu pouco tempo depois, vitimado pelo desgosto e pelos remorsos. O castelo, abandonado, caiu em ruínas.
Dizem que, em certas noites de luar, as almas de Beatriz e do mouro aparecem, abraçados, na torre grande do castelo e D. Ramiro, rojado a seus pés, pede eterno perdão pelos seus crimes, mas o mouro, inflexível, responde-lhe com dureza:
- MALDIÇÃO!
E também há ainda quem diga que se consegue ouvir, por entre o rumorejar das águas, os soluços de D. Ramiro…