quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Almourol e Cardiga


Há muito tempo, quando os moiros foram senhores da península, era alcaide de um Castelo, erguido a meio do Tejo, o sarraceno Almourol, que ali vivia com a sua mulher Cardiga e a filha Miraguarda, de olhos sonhadores e negros e de tanta beleza, que era capaz de cativar a alma de um cristão. E assim sucedeu.

Nas pelejas entre moiros e cristãos, nas vizinhanças do Castelo, um intrépido cavaleiro cristão, das hostes de Afonso Henriques, divisou nas ameias da fortaleza o moreno e encantador rosto de Miraguarda. E tão enfeitiçado ficou que se esqueceu que profanava a religião professada, ousando olhar cobiçosamente para a filha dos infiéis.

Chegado à fala com Miraguarda, que retribuiu o seu amor, planearam a fuga. O amoroso cavaleiro raptou a moira encantada, levando-a para longe, cingida a si, num fogoso corcel. No momento da fuga, as hostes cristãs aproveitaram o ensejo para penetrar no Castelo, tomando-o aos Sarracenos.

Foi então que Almourol e Cardiga, não podendo suportar a afronta da dupla traição e o degradante cativeiro que lhes seria imposto, subiram à torre de menagem e precipitaram-se no Tejo pondo assim termo ao seu sofrimento.

Os corpos dos dois sarracenos foram impelidos pela corrente do Tejo e internaram-se no oceano, perdendo-se entre as brumas e neblinas do além-mar, onde, petrificadas, se transformaram, diz a lenda, em duas ilhas de maravilha.

Quando os Portugueses, séculos depois, descobriram a ilha de Santa Maria, e depois a de S. Miguel, o povo tomou como verídica a lenda de antanho, dizendo que Santa Maria era o corpo da Cardiga e S. Miguel o de Almourol, transformados nas duas ilhas encantadas.

Curioso é que o descobridor dos Açores foi frei Gonçalo Velho Cabral, senhor de Pias, de Beselga e de Cardiga, comendador do Castelo de Almourol que em 1432 foi designado 1º capitão donatário de Santa Maria, e em 1444, 1º capitão donatário de S. Miguel.
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