segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A Moura Cassima



Esta lenda passa-se na véspera da reconquista de Loulé aos Mouros pelo Mestre D. Paio Peres Correia. Loulé estava sob domínio dos mouros e seu governador tinha três belas filhas que muito amava e que se prezava de educar dentro das mais rigorosas tradições da sua terra: Zara, Lídia e Cassima, que era a mais nova. Este governador era um conhecedor dos segredos da magia.

Quando D. Peres se encontrava no exterior da muralhas da cidade pronto para conquistar a cidade, o governador levou as suas filhas até uma fonte onde as encantou, com o objectivo de as preservar de um possível cativeiro. Os mouros, nessa noite, fugiram para Tânger mas na esperança de voltarem em breve para retomar a cidade.

Mas o velho governador não conseguia viver feliz ao pensar na pouca sorte das suas pobres filhas. Até que num certo dia apareceu em Tânger um "carregamento" de escravos vindos de Portugal onde se encontrava um homem de Loulé, um carpinteiro, que o governador não hesitou em comprar.


Já no palacete, o mouro perguntou ao carpinteiro se ele não gostaria de voltar para perto da sua família. Este, sem perder um segundo, disse que sim. Logo o mouro pegou num alguidar cheio de água dizendo ao louletano para ele se colocar de costas para o alguidar e saltar para o outro lado, prevenindo-o que se caísse dentro da água iria afogar-se no oceano. Deu-lhe três pães e explicou-lhe que em cada um deles estava escrito o nome de cada uma das suas filhas. Na véspera de São João, à meia-noite, iria até à fonte onde elas estavam encantadas e atirá-los-ia lá para dentro, um a um, dizendo alto o nome de cada uma delas: Zara, Lídia e Cassima. Depois voltaria para casa e esqueceria o assunto.

 O carpinteiro saltou e como num passe de mágica chegou a sua casa abraçando a sua mulher. Logo de seguida, foi até um canto da casa e escondeu os três pães dentro de um baú. Passaram-se muitas semanas, pois que o tempo de S. João ainda estava longe. Um dia, a mulher do carpinteiro descobriu os pães e ficou desconfiada por eles estarem escondidos, então pegou numa faca a fim de ver se havia alguma coisa lá dentro. Ao espetar a faca, de imediato, ouviu um grito e as suas mãos encheram-se de sangue vindo do interior do pão. Cheia de medo, escondeu o pão entre os outros, fechou a arca e saiu dali à pressa.


Na véspera de S. João, o carpinteiro estava indiferente à animação pois só pensava em cumprir a promessa por ele feita ao ex-governador e, logo que pôde, pegou nos pães e foi até à fonte. Chegando a altura certa,  atirou o primeiro pão para a fonte e gritou por Zara, a mais velha das irmãs. Uma figura feminina subiu no espaço e desapareceu diante dos seus olhos. Logo de seguida atirou o segundo e gritou por Lídia. Voltou a aparecer-lhe outra bela rapariga que desapareceu no ar diante dele. Por fim atirou o terceiro e gritou pela filha mais nova do ex-governador mas nada aconteceu. Voltou a gritar por Cassima e uma jovem moura apareceu-lhe agarrada à borda da fonte dizendo-lhe, entre gemidos,  que não podia sair dali  por causa da curiosidade da sua esposa.

O carpinteiro implorou perdão em nome da sua pobre mulher e Cassima, dizendo  que a perdoava ofereceu-lhe um belo cinto feito de ouro e pedras preciosas instruindo-o para cingir a mulher com ele quando desse à luz o seu filho. Depois, entre gemidos, deixou-se escorregar até ao fundo da fonte...


No caminho, o carpinteiro, para ver melhor a beleza do cinto, colocou-o em redor de um tronco de um grande carvalho, mas de imediato a arvore cai upor terra, cortada cerce pelo cinto fantástico. Benzendo-se e rezando, o carpinteiro compreendeu tudo: Cassima dera-lhe o cinto apenas para se vingar! Sua mulher ficaria cortada ao meio, como o carvalho gigantesco!...

Correu para casa, abraçou a mulher e nessa noite não conseguiu pregar olho com medo que a moura ali aparecesse, mas isso nunca aconteceu. Tal como a moura Cassima lhe dissera, não mais poderia sair da fonte. Apenas por vezes, segundo se diz - principalmente nas vésperas de S. João - ela consegue agarrar-se à beira da fonte e chorar tristemente o seu encantamento aos que se aventuram por até lá....
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...