segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Os Mortos

Uma sombra
que se estendeu por cima do louceiro,
ou no quintal debaixo da caldeira
o olho ainda resplandecendo
quando tudo está apagado,
somente isso, mas são
os mortos. Mal não fazem, o que é que pode
um fluxo de memória
sem músculos nem sangue? Pavor
nas assoalhadas ao entardecer, brancas
sombras, movimentos nas esplanadas
esticadas pela lua nos sonhos de infância...
Também são inquietação, nas noites
humildes – paciência, preces.
Estão nas cordilheiras e nos passos
dos montes, também nos dias
em que é calmo o manto estendido
dos domingos bordados de ouro...


Lucio Piccolo (1901-1969)
tradução de Andrea Ragusa

Eduardo Naranjo, A Imagem dos Tempos Perdidos, 1975

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