Um lavrador pobre tinha tantos filhos que não sabia a quem convidar para padrinho dos recém-nascidos. Quase todos na aldeia eram compadres dele. Nascendo-lhe mais um filho, ficou atrapalhado para saber quem levasse a criança ao baptismo. Estava a pensar no caso quando passou por ele um homem muito alto, magro, vestido de branco, que parou e o cumprimentou amavelmente. O lavrador perguntou se ele aceitava ser o padrinho do seu filho mais novo.
— Sabes quem sou eu?
— Não senhor! Mas parece-me ser homem honrado e bom!
— Sou a Morte e aceito ser o teu compadre. Acompanhou o lavrador à igreja, ficando seu
compadre.
Quando voltaram a casa, a Morte disse:
— Escuta. Não tenho dinheiro nem fazenda para o meu afilhado, mas posso fazer o meu compadre tornar-se um homem rico.
— Como será isso, meu compadre?
— Presta atenção! Diz a todos que sé medico e vai atender os doentes. Quando lá chegares me verás. Se eu estiver no lado da cabeça do enfermo, dá-lhe o que quiseres e ele curar-se-á, mas se eu estiver aos pés da cama, o homem está perdido.
— Pois é caso entendido, meu compadre.
Começou o lavrador, que era desempenado e afoito, a dizer-se curandeiro e a visitar doentes por toda a vizinhança. Quando via a Morte perto da cabeceira do doente, punha-o sadio em poucos dias. Quando via a Morte aos pés do enfermo, receitava umas águas simples, cobrava o dinheiro e ia-se embora, desenganando a todos.
Ganhou fama e proveitos crescidos, ficando rico e conhecido em toda a parte.
Já muito velho, o curandeiro foi chamado por um homem muito poderoso e rico. Apesar de relutar, dizendo-se cansado e não mais podendo aceitar consultas, foi obrigado a pôr-se numa carruagem e ir. Lá chegando, logo que olhou para o quarto do ricaço, avistou o compadre Morte, bem sentado aos pés da cama. A família do enfermo prometia os castelos de Espanha se o chefe recobrasse a saúde. O curandeiro imaginou um plano de burlar o pacto com a Morte e ganhar mais aquela fortuna. Mandou voltar o leito, de maneira a ficar os pés onde estava a cabeça e esta onde estavam os pés. A Morte, assim que voltearam a cama, foi-se embora, sem dizer uma só palavra.
O curandeiro recebeu uma gorda quantia e voltou para casa satisfeito.
Anos depois, a Morte veio visitá-lo e disse-lhe: — Meu compadre, de hoje a um ano virei buscá-lo porque deve ter chegado o dia de sua viagem…
O Curandeiro ficou espavorido com o anúncio. Para enganar a Morte mais uma vez, quando se aproximou o dia fatal, pintou os cabelos de preto, pôs umas barbas retintas, convidou uns amigos e começou a beber e a rir, como se fosse outra pessoa.
Chegou a Morte e, não o vendo, perguntou pelo seu compadre. Todos os convidados responderam que o dono da casa não estava e nem sabiam quando ele voltaria.
— Ora, ora — monologou a Morte, desapontada — como não posso perder meu tempo nem a minha viagem, vou levar esse barbadão bebedor…
E levou com ela o seu compadre.