segunda-feira, 8 de outubro de 2012

O sócio do diabo



Era uma vez um lavrador muito pobre que não conseguia medrar no seu trabalho. Tanto mais se esforçava menos rendia a tarefa ao pobre homem. Vai um dia, desesperado, gritou: — Apareça quem me ajude mesmo que seja o próprio Diabo! — Aqui estou eu! respondeu o Demo. Ajustaram logo o contrato. 

O lavrador ganhou um belo terreno e o Diabo disse-lhe: — Planta o que quiseres que bem dará. Nascendo em baixo é meu e saindo em cima é teu… O homem plantou milho, trigo e centeio que nasceram como um louvar a Deus. Quando a plantação estava no pé de ser ceifada, veio o Diabo cobrar a parte. — Pode levar o que é seu… Foi ver o Diabo o que era dele e só encontrou raízes sem valor. Ficou furioso e desmanchou o pacto, propondo outro: ‘ — Vamos às avessas. O que sair por cima é meu e sendo de baixo é teu. 

O homem aceitou. Vendeu o milho, o trigo e o centeio por bom dinheiro e plantou batatas, cenouras e nabos que era um nunca acabar. No tempo da colheita voltou o diabo pela sua parte. — Leve o que está por cima que é o trato… O Diabo desta vez ficou desesperado com o logro. Desmanchou o negócio e propôs outro: — Faço-te rico como um conde e, no fim de vinte anos, ganho a tua alma. Está feito? — Está feito, com uma condição; escrevemos tudo num papel que fica no meu poder e que lhe darei ao fim dos vinte anos. Se passar um minuto depois da meia noite e você não tiver o contrato na mão, estarei livre. — Só aceito se o papel ficar na minha mão no fim do prazo! — Está feito o negócio…. 

Ficou o homem rico da noite para o dia, tratando-se do bom e do melhor, fazendo caridades. No fim dos vinte anos, dia por dia, foi falar com o padre da paróquia e  pediu-lhe uma escudela cheia de água benta. Dentro da escudela meteu o papel e esperou o Diabo. Quando este chegou, o homem disse: — O papel está ali, dentro daquela escudela, bem à vista. É só tirar. O Diabo meteu a mão para agarrar o papel e largou um uivo como se tivesse metido a pata nas brasas. Foi outra vez e gritou com a dor. Por mais que procurasse retirar o contrato, a água benta não deixava. Depois de muito esforço, o relógio bateu as doze badaladas. O homem, então, benzeu-se: — Vai-te para as areias gordas, que eu de ti estou livre! O Diabo estourou como um petardo e foi para o Inferno. O homem continuou rico e feliz, morrendo quando Deus o permitiu. 

Conto tradicional português
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