quarta-feira, 9 de março de 2011

Dia da Morte e dos Diabos

Death, My Irony Surpasses All Others, Odilon Redon, 1899

A Quaresma assinala um período de respeito e penitência, trazidos à lembrança dos habitantes de Vinhais, Trás-os-Montes,  pelas tenebrosas figuras da Morte e do Diabo que, na Quarta-feira de Cinzas, percorrem as ruas da vila, sequiosas de almas pecadoras.

Os diabos perseguem e capturam os humanos que, desafiando o poder sobrenatural daqueles, se atrevem a sair à rua, purificando-os com acutilantes cinturadas e apresentando-os perante a Morte. Esta, empunhando uma gadanha de forma ameaçadora, obriga-os, de joelhos, a recitar umas estranhas ladainhas, impondo temor e lembrando que, a qualquer altura, ceifar-lhes a vida a seu bel-prazer.

"Padre-nosso, caldo grosso, carne gorda não tem osso, rilha-o tu que eu não posso.
Salve rainha, mata a galinha, põe-na a cozer, dá cá a borracha que quero beber.
Creio em Deus, padre todo-poderoso, o filho do rei criou um raposo."

Trata-se de uma tradição secular e única em Portugal, cujas origens permanecem desconhecidas havendo, no entanto, diferentes interpretações que a situam nas celebrações dos Lupercais romanos, nas procissões da Quarta-feira de Cinzas, na Idade Média, ou mesmo por influência dos franciscanos do Convento de São Francisco de Vinhais, durante os séc. XVIII e XIX.
 
Texto retirado daqui
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