sábado, 25 de dezembro de 2010

Natan, o lenhador



Gaspar, Belchior e Baltazar seguiam a estrela que os conduzia a Belém. Acamparam, uma noite, perto de uma cabana e pediram hospedagem. Natan disse-lhes que apenas tinha para sua família, mas que lhes causava pena vê-los expostos ao mau tempo. Mandou que entrassem, em seguida, trouxe-lhes umas braçadas de capim seco para que lhes servisse de cama.

No outro dia, ao despedirem-se de Natan, disseram-lhe os Magos:
— Olha! Não temos dinheiro, mas deixamos-te esta singela lembrança.
E Baltazar entregou-lhe um pífaro, dizendo:
— Toca-o, e os teus desejos cumprir-se-ão. Será para ti uma fonte de riquezas enquanto tratares bem os pobres.

Tendo partido os Reis, disse Natan à esposa:
— Disseram que não tinham dinheiro, e eu o vi em abundância! E ainda me pagaram com uma flauta.
— Mas eles não te disseram que a tocasse, que se cumpririam os teus desejos?
— Ah! Isso é verdade! Vamos experimentar.
Natan tocou o pífaro, dizendo:
— Quero um riquíssimo almoço.
Como por encanto apareceu ali o almoço, deixando-os boquiabertos. E os desejos não tiveram mais limites. Foi pedindo e recebendo: palácios, roupas, riquezas imensas.

Mandou logo convidar os amigos para um lauto banquete, e apareceram muitos para ver as riquezas de Natan. Durante a festa apresentaram-se os Reis, que regressavam de Belém humildemente vestidos, e pediram que fossem conduzidos à presença de Natan. Porém o escravo zombou deles, e disse que recebera ordem de não deixar entrar ninguém. Os reis insistiram em entrar. O escravo pediu socorro, e Natan, indignado, ameaçou soltar os cães contra eles. Os Magos retiraram-se.

Depois de envergarem as suas vestes reais, apresentaram-se de novo, sentados nas suas liteiras e acompanhados de todo o seu séquito. Natan saiu a recebê-los e quis fazê-los sentarem à sua mesa.
— Não — disse Gaspar —, não podemos sentar com quem não tem honra.
— Recusamos tua amizade, porque não sabes cumprir a tua palavra — disse Belchior.
— Não podemos sentar-nos ao lado de um lenhador sem honra — disse Baltazar.

Enfurecido, Natan ia despejar sobre eles cobras e lagartos, quando Baltazar tocou um pífaro, e, no mesmo instante, desapareceram palácios, banquetes, riquezas e tudo quanto havia. Natan lembrou-se de tocar o seu pífaro, mas ele também havia desaparecido. O lenhador encontrava-se, pois, tão pobre quanto antes, e ainda com o coração cheio de remorsos.
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