terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Rumpelstiltskin



Havia uma vez um moleiro pobre que tinha uma filha muito bela. Um dia aconteceu de ter que ir falar com o rei e, para parecer mais importante, disse:
- Tenho uma filha que pode fiar a palha e convertê-la em ouro.
- Essa é uma habilidade que me impressiona – disse o rei ao moleiro – se tua filha é tão hábil como dizes, trá-la amanhã ao meu palácio e vamos ver isso.

Quando trouxeram a moça, o rei levou-a para um quarto cheio de palha, deu-lhe uma roca e uma bobina e disse:
- Trabalha e se, amanhã pela manhã, não tiveres convertido toda essa palha em ouro, morrerás.

Então ele mesmo fechou a porta à chave e deixou-a só. A filha do moleiro sentou-se sem poder fazer nada para salvar a sua vida. Não tinha a menor ideia de como fiar a palha e convertê-la em ouro, e assustava-se cada vez mais, até que por fim começou a chorar.

Porém, de repente a porta abriu-se e entrou um homenzinho:
- Boa tarde, menina moleira, por que choras tanto?
- Ai de mim – disse a rapariga – tenho que fiar esta palha e convertê-la em ouro, porém não sei como fazê-lo.
- O que me dás – disse o homenzinho – se fizer isso por ti?
- O meu colar - disse ela.

O homenzinho pegou no colar, sentou-se à roca e "whirr, whirr, whirr", três voltas e a bobina estava cheia.
Pôs outra e "whirr, whirr, whirr", três voltas e a segunda estava cheia também. E continuou assim até ao amanhecer, quando toda a palha estava fiada e todas as bobinas cheias de ouro.

Ao despertar o dia, o rei já estava ali, e quando viu o ouro ficou atónito e encantado, porém o seu coração tornou-se ainda mais cobiçoso. Levou a filha do moleiro a outra sala, muito maior e cheia de palha e ordenou-lhe que fiasse a noite inteira, se apreciava a vida.
A moça, que não sabia o que fazer, começou a chorar quando a porta se abriu de novo. O homenzinho apareceu e disse:
- Que me darás se eu converter essa palha em ouro? - perguntou ele.
- O anel que tenho no meu dedo – disse ela.

O homenzinho apanhou o anel e começou outra vez a girar a roca, e pela manhã, havia transformado toda a palha em ouro. O rei ficou felicíssimo quando viu aquilo. Porém como não tinha ouro suficiente, levou a filha do moleiro a outra sala cheia de palha, muito maior que a anterior, e disse:
- Tens que fiar isso durante esta noite, se conseguires, serás minha esposa.
- “Apesar de ser a filha de um moleiro, “ pensou, “ não poderei encontrar esposa mais rica no mundo.”

Quando a rapariga ficou só, o homenzinho apareceu pela terceira vez, e disse:
- Que me darás se fiar a palha desta vez?
- Não tenho mais nada para te dar – respondeu ela.
- Então promete-me, que se te tornares rainha, me darás o teu primeiro filho.
- “Quem sabe se isso alguma vez acontecerá...“ pensou a filha do moleiro. E não sabendo como sair daquela situação, prometeu ao homenzinho o que ele queria e uma vez mais a palha foi convertida em ouro.


Quando o rei chegou pela manhã, e encontrou todo o ouro que havia desejado, casou-se com ela e a preciosa filha do moleiro tornou-se rainha.
Um ano depois, trouxe ao mundo um belo menino, e em nenhum momento se lembrou do homenzinho. Porém, de repente, ele apareceu no seu quarto e disse-lhe:
- Dá-me o que prometeste.

A rainha ficou horrorizada e ofereceu-lhe todas as riquezas do reino para deixar o seu filho. Porém o homenzinho disse:
- Não, algo vivo vale para mim mais que todos os tesouros do mundo.
A rainha começou a lamentar-se e chorar tanto que o homenzinho se compadeceu dela:
- Dou-te três dias - disse – se descobrires meu nome, então ficarás com o teu filho.

Então a rainha passou toda a noite pensando em todos os nomes que tinha ouvido, e mandou um mensageiro a todos os cantos do reino para perguntar por todos os nomes que havia. Quando o homenzinho chegou no dia seguinte, ela começou: Gaspar, Melquior, Baltazar... Disse um atrás do outro, todos os nomes que sabia, porém a cada um o homenzinho dizia:
- Esse não é meu nome.

No segundo dia havia perguntado aos vizinhos seus nomes, e ela repetiu os mais curiosos e pouco comuns:
- Seria o teu nome Pata de Cordeiro ou Laço Largo?
Porém ele disse:
- Esse não é meu nome.

Ao terceiro dia o mensageiro voltou e disse:
- Não encontrei nenhum nome. Porém, quando subia uma grande montanha no final de um bosque, onde a raposa e a lebre se desejam boas noites, ali vi um homenzinho muito ridículo saltando.. Deu um cabriola e gritou:
“Hoje trago o pão, amanhã trarei cerveja, no outro terei o filho da jovem rainha. Já estou contente que nada aconteça, que Rumpelstiltskin me chamo.”

Podeis imaginar o contentamento da rainha quando escutou o nome. E quando logo em seguida chegou o homenzinho e perguntou:
- Bem, jovem rainha, qual é meu nome?
A rainha primeiro disse:
- Chamas-te Conrado?
- Não.
- Chamas-te Harry?
- Não.
- Quem sabe se o teu nome é... Rumpelstiltskin?
- Contou-te o demónio! Contou-te o demónio! - Gritou o homenzinho e, na sua raiva, bateu o pé direito na terra tão forte que entrou toda a perna e quando tirou com raiva a perna com as duas mãos, partiu-se em dois.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Natan, o lenhador



Gaspar, Belchior e Baltazar seguiam a estrela que os conduzia a Belém. Acamparam, uma noite, perto de uma cabana e pediram hospedagem. Natan disse-lhes que apenas tinha para sua família, mas que lhes causava pena vê-los expostos ao mau tempo. Mandou que entrassem, em seguida, trouxe-lhes umas braçadas de capim seco para que lhes servisse de cama.

No outro dia, ao despedirem-se de Natan, disseram-lhe os Magos:
— Olha! Não temos dinheiro, mas deixamos-te esta singela lembrança.
E Baltazar entregou-lhe um pífaro, dizendo:
— Toca-o, e os teus desejos cumprir-se-ão. Será para ti uma fonte de riquezas enquanto tratares bem os pobres.

Tendo partido os Reis, disse Natan à esposa:
— Disseram que não tinham dinheiro, e eu o vi em abundância! E ainda me pagaram com uma flauta.
— Mas eles não te disseram que a tocasse, que se cumpririam os teus desejos?
— Ah! Isso é verdade! Vamos experimentar.
Natan tocou o pífaro, dizendo:
— Quero um riquíssimo almoço.
Como por encanto apareceu ali o almoço, deixando-os boquiabertos. E os desejos não tiveram mais limites. Foi pedindo e recebendo: palácios, roupas, riquezas imensas.

Mandou logo convidar os amigos para um lauto banquete, e apareceram muitos para ver as riquezas de Natan. Durante a festa apresentaram-se os Reis, que regressavam de Belém humildemente vestidos, e pediram que fossem conduzidos à presença de Natan. Porém o escravo zombou deles, e disse que recebera ordem de não deixar entrar ninguém. Os reis insistiram em entrar. O escravo pediu socorro, e Natan, indignado, ameaçou soltar os cães contra eles. Os Magos retiraram-se.

Depois de envergarem as suas vestes reais, apresentaram-se de novo, sentados nas suas liteiras e acompanhados de todo o seu séquito. Natan saiu a recebê-los e quis fazê-los sentarem à sua mesa.
— Não — disse Gaspar —, não podemos sentar com quem não tem honra.
— Recusamos tua amizade, porque não sabes cumprir a tua palavra — disse Belchior.
— Não podemos sentar-nos ao lado de um lenhador sem honra — disse Baltazar.

Enfurecido, Natan ia despejar sobre eles cobras e lagartos, quando Baltazar tocou um pífaro, e, no mesmo instante, desapareceram palácios, banquetes, riquezas e tudo quanto havia. Natan lembrou-se de tocar o seu pífaro, mas ele também havia desaparecido. O lenhador encontrava-se, pois, tão pobre quanto antes, e ainda com o coração cheio de remorsos.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Solstício de Inverno


O festival de solstício do inverno marca a véspera do renascimento do sol. Também é a época do Natal. Sendo a noite da lua mais longa do ano, denota o fim dos poderes lunares sobre a terra. Sempre-verdes enfeitam as casas, em homenagem aos espíritos da natureza. A lenha de Natal é acesa com um pedaço de lenha do ano anterior; depois de queimada, um pedaço pequeno da acha é guardado para acender o fogo do ano seguinte.

A continuidade é considerada um factor essencial para garantir que a roda da vida continue girando, cheia de luz, durante os meses sombrios e gélidos.

Plantas com folhas verdes durante o ano inteiro como o visco, hera, azevinho, junípero, pinhas e agulhas de pinheiro, decoram a casa, simbolizando a vida eterna.

domingo, 12 de dezembro de 2010

O Unicórnio

The Unicorns, Gustave Moreau, 1885

O Unicórnio representa complexos conceitos simbólicos e místicos. Os cristãos vêem nesta criatura de um branco radiante, a quintessência de um Cristo invencível que presta honra à castidade de uma alma pura -  Virgem Maria (a Donzela). Numa perspectiva mais pagã, o unicórnio simboliza a consciência espiritual, a elegância, a magia e a sublimação sexual.

Quatrocentos anos antes da era cristã, o grego Ctésias, que era médico de Artaxerxes Mnémon, diz que nos reinos do Indostão há asnos selvagens muito velozes; de pelagem branca, cabeça purpúrea, olhos azuis, dotados de um agudo corno na frente, que na base é branco, na ponta é vermelho e no meio é inteiramente negro.

O orientalista Schrader, por volta de 1892, pensou que o Unicórnio podia ter sido sugerido aos Gregos por certos baixos-relevos persas, que representam os touros de perfil, com um único corno.

Na Idade Média, os bestiários ensinam que o Unicórnio pode ser aprisionado por uma criança; no Physiologus Graecus lê-se: "Como o apanham. Põem-lhe à frente uma virgem e ele salta para o regaço da virgem e a virgem recebe-o com amor e leva-o ao palácio dos reis." Muitas famosas tapeçarias ilustram este triunfo.

Esta tapeçaria, intitulada 'Sight', é uma de um grupo flamengo de seis, de finais do século XV,chamado 'La Dame à la Licorne'. A donzela segura num espelho junto ao animal amansado.

Nesta tapeçaria (c. 1500), a virgem está no seu jardim fechado, com o unicórnio a seus pés. Na legenda está escrito um lamento - a jovem está infeliz com o seu isolamento e anseia ser libertada da sua solidão.

Um cavalinho branco com patas traseiras de antílope, barba de chibo e um comprido e retorcido corno à frente, é a representação habitual deste animal fantástico.

Leonardo da Vinci diz que a captura do Unicórnio é devida à sua sensualidade, que o faz esquecer a sua força e encostar-se no regaço da donzela, e assim é apanhado pelos caçadores.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Lenda de Lorelei


Emil Krupa-Kurupinski, Lorelei, 1899

A mais conhecida de todas as lendas do Reno é a de Lorelei.

Num penhasco à margem direita do rio, situado entre as cidades de Sankt Goarshausen e Kaub, vivia Loreley, uma sereia de beleza incomparável e longos cabelos dourados. Nas noites de lua cheia, Loreley entoava um irresistível canto que fazia os navegantes esquecerem o leme, num enlevo fatal, que conduzia seus barcos invariavelmente contra as rochas existentes naquele perigoso trecho do rio.

Assim sucedeu também com o filho do conde do Palatinado, Ronald, que apaixonado pelo canto da sereia, teve o mesmo fim de outros navegantes. Irado pela morte do filho, o conde enviou tropas ao penhasco, com ordens de aprisionar a sereia e lançá-la do alto do rochedo ao rio, uma queda à qual seria impossível sobreviver.

Com grande esforço, os soldados do conde escalaram o penhasco, encontrando a sereia calmamente sentada, penteando os cabelos com um pente dourado. Ao saber das intenções dos soldados, Loreley agarrou no seu colar de pérolas e lançou-o ao rio. Imediatamente levantou-se de lá uma enorme onda, sobre a qual a sereia desceu lentamente ao leito do Reno. Loreley nunca mais foi vista, mas o seu canto continuou a ser ouvido durante muito tempo, nas noites claras de lua cheia.

Albert Pinkham Ryder

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Nothing is gonna change my world


Rufus Wainwright - Across The Universe (2002)

domingo, 5 de dezembro de 2010

Narasimha


A narrativa purânica diz que um demónio muito poderoso quis solicitar ao criador Brahma a bênção da imortalidade. Brahma disse que a imortalidade era algo impossível de ser obtida já que ela não faz parte da criação (todo o ser criado deve ser mortal).

Por esperteza, esse demónio (Hyranyakshipu) pediu a Brahma que não fosse morto por qualquer criatura jamais criada, ou por qualquer criatura nascida de uma mãe, de um pai, de um ventre, de um ovo ou gerada por qualquer outra entidade viva criada, nem de dia nem de noite, que não morresse em nenhum lugar, nem na terra, nem na água e nem no ar, que não fosse morto por qualquer tipo de arma, que o metal jamais perfurasse a sua carne, que sempre estivesse livre de doenças provocadas por microrganismos, que sempre fosse protegido de catástrofes naturais e que o seu próprio corpo e mente não fossem jamais causa da sua morte.

Brahma foi bastante solícito em conceder-lhe todas essa bençãos, que aos olhos de um simples mortal equivalem à imortalidade.

Hyranyakashipu tornou-se um flagelo para toda a criação, vivendo sempre em busca de prazeres mundanos, tais como ouro (hyranya) e cama farta (kashipu), rapinando a própria espécie e todas as demais.

O seu filho, o humilde Praladha, invocou o poder de Vishnu para destruir o seu pai, que se dizia imortal.

Vishnu  encarnou como Narasimha (entidade viva sem forma definida, mais parecida como um leão) e jocosamente cumpriu as bençãos proferidas por Brahma: a sua forma era inusitada e jamais havia sido criada por Brahma, ele surgiu de um pilar de pedra e não foi gerado por uma mãe, pai, ventre, ovo, etc.

A morte de Hyranyakashipu ocorreu no crepúsculo, nem de dia e nem de noite. Vishnu  matou-o sobre o seu joelho, usando a unha para estripá-lo (sobre o joelho é “lugar nenhum,” nem na terra, nem na água e nem no ar, e a unha não é uma arma de metal) e foi assim que o demónio morreu, gozando de excelente saúde!

(in Wikipedia)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O Cérbero

Cérbero, Ilustração de Gustave Doré para a Divina Comédia de Dante

Se o Inferno é uma casa, a casa de Hades, é natural que um cão a guarde e também é natural que imaginem com esse cão é atroz. A Teogonia de Hesíodo atribui-lhe cinquenta cabeças; para maior comodidade das artes plásticas, este número foi rejeitado e as três cabeças do Cérbero são do domínio público. Virgílio menciona as suas três gargantas; Ovídio fala do seu triplo latido; Buder compara as três coroas da tiara do Papa, que é o porteiro do Céu, com as três cabeças do cão, que é o porteiro dos Infernos. Dante dá-lhe características humanas que agravam o seu temperamento infernal: pêlo ensebado e negro, mãos com unhas que desfazem, por entre a chuva, as almas dos réprobos. Morde, ladra e mostra os dentes.

Trazer o Cérbero à luz do dia foi o último trabalho de Hércules. Um escritor inglês do século XVIII, Zachary Grey, interpreta assim a aventura:

"Este Cão de Três Cabeças anuncia o passado, o presente e o futuro que, como quem diz, devoram todas as coisas. Que fosse vencido por Hércules prova que as Acções heróicas são vitoriosas sobre o Tempo e subsistem na Memória da Posteridade."

Segundo os textos mais antigos, o Cérbero saúda com o rabo (que é uma serpente) os que entram no Inferno e devora os que daí procuram sair. Uma tradição posterior fá-lo morder os que chegam; para o acalmar, era costume pôr no ataúde um bolo de mel.

Na mitologia escandinav, um cão ensanguentado, Garmn, guarda a casa dos mortos e lutará com os deuses, quando os lobos infernais devorarem a Lua e o Sol. Alguns atribuem-lhe quatro olhos e quatro olhos possuem também os cães de Yama, o deus bramânico da morte.

O bramanismo e o budismo oferecem infernos de cães que, à semelhança do Cérbero dantesco, são os carrascos das almas.

Jorge Luís Borges, O Livro dos Seres Imaginários

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Alma

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