domingo, 26 de setembro de 2010

Os sete corvos



Era uma vez um homem que tinha sete filhos e vivia suspirando por uma menina. Afinal, um dia, a mulher anunciou-lhe que estava, mais uma vez, de esperanças. No tempo certo, quando ela deu à luz, nasceu uma menina. Foi imensa a alegria deles. Mas, ao mesmo tempo, ficaram muito preocupados, pois a recém-nascida era pequena e fraquinha, e precisava ser baptizada com urgência.

Então o pai mandou um dos filhos ir bem depressa até a fonte e trazer água para o baptismo. O menino foi a  correr e, atrás dele, os seis irmãos. Ao lá chegar, cada um queria encher o cântaro primeiro; na disputa, o cântaro caiu na água e desapareceu. Os meninos ficaram sem saber o que fazer. Em casa, como eles estavam a demorar, o pai disse, impaciente:

- Na certa, ficaram a brincar e  esqueceram-se da vida!
E, cada vez mais angustiado, exclamou com raiva:
- Queria que todos eles se transformassem em corvos!

Nem bem acabou de falar, ouviu um bater de asas por cima de sua cabeça e, quando olhou, viu sete corvos pretos como carvão passando por cima da casa. Os pais fizeram de tudo para anular a maldição, mas nada conseguiram; ficaram tristíssimos com a perda dos sete filhos. Mas, de alguma forma, consolaram-se com a filhinha, que logo ficou mais forte e foi crescendo, cada dia mais bonita. Passaram-se anos.

A menina nunca soube que tinha irmãos, pois os pais jamais falaram deles. Um dia, porém, escutou acidentalmente algumas pessoas:
- A menina é muito bonita, mas foi por culpa dela que os irmãos se desgraçaram…
Com grande aflição, ela procurou os pais e perguntou- lhes se tinha irmãos, e onde eles estavam. Os pais não puderam mais guardar segredo. Disseram que havia sido uma predestinação do céu, mas que o seu baptismo fora a inocente causa. A partir desse momento, não se passou um dia sem que a menina se culpasse pela perda dos irmãos, pensando no que fazer para salvá-los.

Não tinha mais paz nem sossego. Um dia, fugiu de casa, decidida a encontrar os irmão onde quer que eles estivessem, no vasto mundo, custasse o que custasse. Levou consigo apenas um anel dos seus pais como lembrança, um pão grande para quando tivesse fome, um cantil de água para matar a sede e um banquinho para quando quisesse descansar.

Foi andando, andando, afastando-se cada vez mais, e assim chegou ao fim do mundo. Então, foi falar com o sol. Mas ele era assustador, quente demais e comia crianças. A menina fugiu e foi falar com a lua. Ela era horrorosa, mais fria que o gelo, e também comia crianças. Quando viu a menina, disse com um sorriso mau:
- Hum, hum… que cheirinho bom de carne humana!

A menina afastou-se a correr e foi falar com as estrelas. Encontrou–as sentadas, cada uma na sua cadeirinha. Todas elas foram bondosas e amáveis com ela. A Estrela d’Alva ficou em pé e deu-lhe um ossinho de frango, dizendo:
- Sem este ossinho, não poderás abrir a Montanha de Cristal, e é na Montanha de Cristal que estão os teus irmãos.

A menina pegou no ossinho, embrulhou-o num pedaço de pano, e de novo se pôs a andar. Andou, andou e afinal chegou à Montanha de Cristal. O portão estava fechado; quando desembrulhou o paninho para pegar no osso, ele estava vazio! Tinha perdido o presente da Estrela… E agora, o que fazer? Queria salvar os irmãos, mas já não tinha a chave da Montanha de Cristal.

Sem pensar muito, meteu o dedo indicador dentro do buraco da fechadura e girou-o, mas o portão continuou fechado. Então, pegou uma faca na sua trouxinha, cortou  um pedaço do dedo mindinho e meteu o pedaço do dedo na fechadura: felizmente, o portão abriu-se.

Assim que ela entrou, um anãozinho veio a seu encontro:
- O que  procuras, minha menina?
- Procuro os meus irmãos, os sete corvos.
- Os senhores corvos não estão em casa e vão  demorar-se bastante. Mas, se quiseres esperar, entra e fica à vontade.

Assim dizendo, o anãozinho foi para dentro e voltou com a comida dos corvos em sete pratinhos, e a bebida em sete copinhos. A menina comeu um bocadinho de cada prato e bebeu um golinho de cada copo, mas deixou cair o anel que trouxera dentro do último copinho. Nesse momento, ouviu-se um zunido e um bater de asas no ar.

- São os senhores corvos que chegam – explicou o anãozinho. Eles entraram, quiseram logo comer e beber e dirigiram-se para os seus pratos e copos. Então um disse ao outro:
- Alguém comeu no meu prato! Alguém bebeu no meu copo! E foi boca humana!
E quando o sétimo corvo acabou de beber a última gota de seu copo, o anel rolou até o seu bico. Ele reconheceu o anel dos seus pais e exclamou:
- Queira Deus que a nossa irmãzinha esteja aqui! Então, estaremos salvos!

Ao ouvir esse pedido, a menina, que estava atrás da porta, saiu e foi ao encontro deles. Imediatamente, os corvos recuperaram a sua forma humana. Abraçaram-se e  beijaram-se na maior alegria e, muito felizes, voltaram todos para casa.
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