sábado, 25 de setembro de 2010

O sapateiro pobre



Era uma vez um sapateiro que tinha ficado tão pobre, mesmo sem culpa nenhuma, que a única coisa que lhe restara era um pedaço de couro que dava para fazer um único par de sapatos. De noite, ele cortou o molde dos sapatos, planeando começar a trabalhar neles no dia seguinte. Depois, de consciência tranquila, foi calmamente para a cama, entregou-se a Deus, e adormeceu.

De manhã, rezou as suas orações e ia  sentar-se para começar a trabalhar quando viu que os sapatos estavam prontinhos em cima da banca. Ficou tão espantado que nem sabia o que pensar. Pegou nos sapatos e olhou de perto. Não havia um único ponto irregular e estava perfeito como se tivesse sido feito por um mestre-artesão.

Melhor ainda: logo chegou um cliente que gostou tanto dos sapatos que pagou por eles mais do que seria o preço normal. Com o dinheiro, o sapateiro comprou um pedaço de couro que dava para fazer dois pares de sapatos. Novamente, ele deixou os moldes cortados de noite, antes de ir deitar-se, pretendendo trabalhar neles com mais ânimo no dia seguinte. Mas nem precisou porque quando se levantou os sapatos já estavam prontos. E também logo chegaram compradores, que lhe pagaram o suficiente para que ele comprasse couro para quatro pares novos.

Na manhã seguinte, ele encontrou os quatro pares prontos. E assim continuou: os sapatos que ele deixava cortados de noite estavam terminados de manhã. Em pouco tempo ele conseguiu  manter-se decentemente e, daí a mais um pouco, estava rico.

Numa noite, pouco antes do Natal, depois que o sapateiro tinha cortado o couro e eles estavam a preparar-se para ir dormir, ele disse para a mulher:

— E se ficássemos acordados hoje para ver quem é que nos ajuda?

A mulher gostou da ideia e deixou a lâmpada acesa. Os dois esconderam-se num canto, atrás de umas roupas, e ficaram à espera. À meia-noite, dois homenzinhos nus e com ar muito esperto entraram,  inclinaram-se diante da banca de trabalho, pegaram nas peças que estavam cortadas e começaram a furar, costurar e martelar com tanta rapidez e agilidade com dedinhos pequenos que o sapateiro nem acreditava, de tão espantado. Trabalharam sem um momento de descanso, até que os sapatos estavam prontos, em cima da banca. Então foram-se embora. Na manhã seguinte, a mulher disse:

— Esses homenzinhos  fizeram-nos ficar ricos. Devíamos mostrar-lhes como estamos gratos. Eles devem ter frio, coitados, correndo de um lado para outro sem nada para vestir. Sabes que mais ? Vou fazer umas camisas e calças para eles, coletes, e casacos… E tu podias fazer uns pares de sapatos.

— Óptima ideia -  disse o sapateiro.

Naquela noite, quando aprontaram tudo, deixaram os presentes em cima da banca de trabalho, em vez dos moldes de couro cortado. Depois esconderam-se para ver o que os homenzinhos iam fazer. À meia-noite, lá chegaram eles a correr, prontos para trabalhar. De início, ficaram meio intrigados ao ver aquelas roupinhas, em vez do couro cortado. Mas deram pulos de alegria. Ligeiros como o relâmpago, vestiram as roupinhas lindas, ajeitaram-se e cantaram:

— Estamos lindos, tão elegantes. sem mais trabalho, como era antes…

Pularam e dançaram, saltaram por cima das cadeiras e dos bancos, e finalmente saíram pela porta afora, sem parar de dançar. Depois disso, nunca mais voltaram, mas o sapateiro continuou a prosperar até ao fim dos seus dias, porque tudo em que ele punha as mãos prosperava.
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