terça-feira, 28 de setembro de 2010

A Bao A Qu


Para contemplar a paisagem mais maravilhosa do mundo, é preciso chegar ao último piso da Torre da Vitória, em Chitor. Existe aí um terraço circular que permite dominar todo o horizonte. Uma escada de caracol conduz ao terraço, mas só se atrevem a subir os que não acreditam na fábula, que diz assim:

Na escada da Torre da Vitória, vive desde o princípio do tempo o A Bao A Qu, sensível aos valores das almas humanas. Vive em estado letárgico, no primeiro degrau, e apenas goza de vida consciente quando alguém sobe a escada. A vibração da pessoa que se aproxima infunde-lhe vida e uma luz interior insinua-se nele. Ao mesmo tempo, o seu corpo e a sua pele quase translúcida começam a mover-se.

Quando alguém sobe a escada, o A Bao A Qu coloca-se quase nos calcanhares do visitante e sobe agarrado na borda dos degraus curvos e gastos pelos pés de gerações de peregrinos. Em cada degrau intensifica-se a cor, a sua forma aperfeiçoa-se e a luz que irradia é cada vez mais brilhante.

Um testemunho da sua sensibilidade é o facto de que só obtém a sua forma perfeita no último degrau, quando o que sobe é um ser evoluído espiritualmente. Se assim não for, o A Bao A Qu fica como paralisado antes de chegar, o seu corpo incompleto, a sua cor indefinida e a luz vacilante. O A Bao A Qu sofre quando não se consegue formar totalmente e a sua queixa é um rumor apenas perceptível, semelhante ao roçar da seda.

Mas quando o homem ou a mulher que o revivem estão cheios de pureza, o A Bao A Qu pode chegar ao último degrau já completamente formado e irradiando uma viva luz azul. O seu regresso à vida é muito breve, pois ao descer o peregrino, o A Bao A Qu roda e cai até ao degrau inicial, onde já apagado e semelhante a uma lâmina de contornos vagos espera pelo próximo visitante.

Só é possível vê-lo bem quando chega a meio da escada, onde o prolongamento do seu corpo, que uma espécie de bracinhos ajudam a subir, se definem com clareza. Há quem diga que olha com todo o corpo e que ao tacto recorda a pele de pêssego. No decorrer dos séculos, o A Bao A Qu chegou uma só vez à perfeição.

O Livro dos Seres Imaginários, de Jorge Luís Borges

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Athame


VIBRAÇÃO: chackra do plexo solar
PALAVRAS-CHAVE: fortalecimento, direcção, fronteiras
PONTO ALTO: energias poderosas protegem-no e guiam-no
PONTO BAIXO: estão em evidência questões relacionadas com os seus limites pessoais

O Athame é, segundo a tradição, uma faca de dois gumes com lâmina de metal e cabo preto - trata-se de um instrumento sagrado usado nas cerimónias como símbolo do princípio masculino. Também é usado para conjurar círculos e para direccionar as energias mágicas durante os rituais.

O Athame exorta-nos a expressar-nos no mundo com mais confiança e desenvoltura e a decidirmos que rumo dar à vida. Concentremos as energias no objectivo em vista e livremo-nos de tudo aquilo que possa representar um impedimento. Só nos sentiremos mais fortes se tivermos fé em nós mesmos.

Eu posso criar o mundo do qual gostaria de fazer parte!

domingo, 26 de setembro de 2010

Os sete corvos



Era uma vez um homem que tinha sete filhos e vivia suspirando por uma menina. Afinal, um dia, a mulher anunciou-lhe que estava, mais uma vez, de esperanças. No tempo certo, quando ela deu à luz, nasceu uma menina. Foi imensa a alegria deles. Mas, ao mesmo tempo, ficaram muito preocupados, pois a recém-nascida era pequena e fraquinha, e precisava ser baptizada com urgência.

Então o pai mandou um dos filhos ir bem depressa até a fonte e trazer água para o baptismo. O menino foi a  correr e, atrás dele, os seis irmãos. Ao lá chegar, cada um queria encher o cântaro primeiro; na disputa, o cântaro caiu na água e desapareceu. Os meninos ficaram sem saber o que fazer. Em casa, como eles estavam a demorar, o pai disse, impaciente:

- Na certa, ficaram a brincar e  esqueceram-se da vida!
E, cada vez mais angustiado, exclamou com raiva:
- Queria que todos eles se transformassem em corvos!

Nem bem acabou de falar, ouviu um bater de asas por cima de sua cabeça e, quando olhou, viu sete corvos pretos como carvão passando por cima da casa. Os pais fizeram de tudo para anular a maldição, mas nada conseguiram; ficaram tristíssimos com a perda dos sete filhos. Mas, de alguma forma, consolaram-se com a filhinha, que logo ficou mais forte e foi crescendo, cada dia mais bonita. Passaram-se anos.

A menina nunca soube que tinha irmãos, pois os pais jamais falaram deles. Um dia, porém, escutou acidentalmente algumas pessoas:
- A menina é muito bonita, mas foi por culpa dela que os irmãos se desgraçaram…
Com grande aflição, ela procurou os pais e perguntou- lhes se tinha irmãos, e onde eles estavam. Os pais não puderam mais guardar segredo. Disseram que havia sido uma predestinação do céu, mas que o seu baptismo fora a inocente causa. A partir desse momento, não se passou um dia sem que a menina se culpasse pela perda dos irmãos, pensando no que fazer para salvá-los.

Não tinha mais paz nem sossego. Um dia, fugiu de casa, decidida a encontrar os irmão onde quer que eles estivessem, no vasto mundo, custasse o que custasse. Levou consigo apenas um anel dos seus pais como lembrança, um pão grande para quando tivesse fome, um cantil de água para matar a sede e um banquinho para quando quisesse descansar.

Foi andando, andando, afastando-se cada vez mais, e assim chegou ao fim do mundo. Então, foi falar com o sol. Mas ele era assustador, quente demais e comia crianças. A menina fugiu e foi falar com a lua. Ela era horrorosa, mais fria que o gelo, e também comia crianças. Quando viu a menina, disse com um sorriso mau:
- Hum, hum… que cheirinho bom de carne humana!

A menina afastou-se a correr e foi falar com as estrelas. Encontrou–as sentadas, cada uma na sua cadeirinha. Todas elas foram bondosas e amáveis com ela. A Estrela d’Alva ficou em pé e deu-lhe um ossinho de frango, dizendo:
- Sem este ossinho, não poderás abrir a Montanha de Cristal, e é na Montanha de Cristal que estão os teus irmãos.

A menina pegou no ossinho, embrulhou-o num pedaço de pano, e de novo se pôs a andar. Andou, andou e afinal chegou à Montanha de Cristal. O portão estava fechado; quando desembrulhou o paninho para pegar no osso, ele estava vazio! Tinha perdido o presente da Estrela… E agora, o que fazer? Queria salvar os irmãos, mas já não tinha a chave da Montanha de Cristal.

Sem pensar muito, meteu o dedo indicador dentro do buraco da fechadura e girou-o, mas o portão continuou fechado. Então, pegou uma faca na sua trouxinha, cortou  um pedaço do dedo mindinho e meteu o pedaço do dedo na fechadura: felizmente, o portão abriu-se.

Assim que ela entrou, um anãozinho veio a seu encontro:
- O que  procuras, minha menina?
- Procuro os meus irmãos, os sete corvos.
- Os senhores corvos não estão em casa e vão  demorar-se bastante. Mas, se quiseres esperar, entra e fica à vontade.

Assim dizendo, o anãozinho foi para dentro e voltou com a comida dos corvos em sete pratinhos, e a bebida em sete copinhos. A menina comeu um bocadinho de cada prato e bebeu um golinho de cada copo, mas deixou cair o anel que trouxera dentro do último copinho. Nesse momento, ouviu-se um zunido e um bater de asas no ar.

- São os senhores corvos que chegam – explicou o anãozinho. Eles entraram, quiseram logo comer e beber e dirigiram-se para os seus pratos e copos. Então um disse ao outro:
- Alguém comeu no meu prato! Alguém bebeu no meu copo! E foi boca humana!
E quando o sétimo corvo acabou de beber a última gota de seu copo, o anel rolou até o seu bico. Ele reconheceu o anel dos seus pais e exclamou:
- Queira Deus que a nossa irmãzinha esteja aqui! Então, estaremos salvos!

Ao ouvir esse pedido, a menina, que estava atrás da porta, saiu e foi ao encontro deles. Imediatamente, os corvos recuperaram a sua forma humana. Abraçaram-se e  beijaram-se na maior alegria e, muito felizes, voltaram todos para casa.

sábado, 25 de setembro de 2010

O sapateiro pobre



Era uma vez um sapateiro que tinha ficado tão pobre, mesmo sem culpa nenhuma, que a única coisa que lhe restara era um pedaço de couro que dava para fazer um único par de sapatos. De noite, ele cortou o molde dos sapatos, planeando começar a trabalhar neles no dia seguinte. Depois, de consciência tranquila, foi calmamente para a cama, entregou-se a Deus, e adormeceu.

De manhã, rezou as suas orações e ia  sentar-se para começar a trabalhar quando viu que os sapatos estavam prontinhos em cima da banca. Ficou tão espantado que nem sabia o que pensar. Pegou nos sapatos e olhou de perto. Não havia um único ponto irregular e estava perfeito como se tivesse sido feito por um mestre-artesão.

Melhor ainda: logo chegou um cliente que gostou tanto dos sapatos que pagou por eles mais do que seria o preço normal. Com o dinheiro, o sapateiro comprou um pedaço de couro que dava para fazer dois pares de sapatos. Novamente, ele deixou os moldes cortados de noite, antes de ir deitar-se, pretendendo trabalhar neles com mais ânimo no dia seguinte. Mas nem precisou porque quando se levantou os sapatos já estavam prontos. E também logo chegaram compradores, que lhe pagaram o suficiente para que ele comprasse couro para quatro pares novos.

Na manhã seguinte, ele encontrou os quatro pares prontos. E assim continuou: os sapatos que ele deixava cortados de noite estavam terminados de manhã. Em pouco tempo ele conseguiu  manter-se decentemente e, daí a mais um pouco, estava rico.

Numa noite, pouco antes do Natal, depois que o sapateiro tinha cortado o couro e eles estavam a preparar-se para ir dormir, ele disse para a mulher:

— E se ficássemos acordados hoje para ver quem é que nos ajuda?

A mulher gostou da ideia e deixou a lâmpada acesa. Os dois esconderam-se num canto, atrás de umas roupas, e ficaram à espera. À meia-noite, dois homenzinhos nus e com ar muito esperto entraram,  inclinaram-se diante da banca de trabalho, pegaram nas peças que estavam cortadas e começaram a furar, costurar e martelar com tanta rapidez e agilidade com dedinhos pequenos que o sapateiro nem acreditava, de tão espantado. Trabalharam sem um momento de descanso, até que os sapatos estavam prontos, em cima da banca. Então foram-se embora. Na manhã seguinte, a mulher disse:

— Esses homenzinhos  fizeram-nos ficar ricos. Devíamos mostrar-lhes como estamos gratos. Eles devem ter frio, coitados, correndo de um lado para outro sem nada para vestir. Sabes que mais ? Vou fazer umas camisas e calças para eles, coletes, e casacos… E tu podias fazer uns pares de sapatos.

— Óptima ideia -  disse o sapateiro.

Naquela noite, quando aprontaram tudo, deixaram os presentes em cima da banca de trabalho, em vez dos moldes de couro cortado. Depois esconderam-se para ver o que os homenzinhos iam fazer. À meia-noite, lá chegaram eles a correr, prontos para trabalhar. De início, ficaram meio intrigados ao ver aquelas roupinhas, em vez do couro cortado. Mas deram pulos de alegria. Ligeiros como o relâmpago, vestiram as roupinhas lindas, ajeitaram-se e cantaram:

— Estamos lindos, tão elegantes. sem mais trabalho, como era antes…

Pularam e dançaram, saltaram por cima das cadeiras e dos bancos, e finalmente saíram pela porta afora, sem parar de dançar. Depois disso, nunca mais voltaram, mas o sapateiro continuou a prosperar até ao fim dos seus dias, porque tudo em que ele punha as mãos prosperava.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Aluado

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Equinócio de Outono


O equinócio de Outono é o segundo festival da colheita e presta homenagens a Herne, o Senhor da Caça - o lado obscuro do Homem Verde. Este é o festival de agradecimento. Oferendas de sidra, vinho e sumo de maçã são derramadas na terra.

Também é a época para preparar a casa para o Inverno que se aproxima: consertos, limpezas...

Mas mesmo bom será convidar os amigos para um lauto jantar na noite de lua cheia da colheita.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O Gato Preto


VIBRAÇÃO: chakcra do terceiro olho
PALAVRAS-CHAVE: psiquismo, clarividência, protecção psíquica
PONTO ALTO: saberá o caminho através da clarividência
PONTO BAIXO: procurar a consciência psíquica

Os gatos pretos sempre foram companheiros dos praticantes de magia. O gato é associado a Freya, a Hécate e a Bast. Estes animais estão estreitamente vinculados aos poderes da lua e ao princípio feminino do psiquismo, da percepção e da intuição. A crença medieval nas nove vidas dos gatos associa-os ao número mágico da Lua.

O Gato Preto aconselha-nos a tomar consciência do que nos envolve e a estarmos atentos a invasões do nosso espaço psíquico. Com paciência, poderemos desenvolver as nossas "antenas" psíquicas, detectar se alguém à nossa volta estiver a agir com más intenções e aumentar a nossa protecção psíquica.

EXERCÍCIO DE MAGIA: Diário de Sonhos

Numa noite de Lua Nova, coloque o seu diário ao ar livre e consagre-o à Lua, a dama dos sonhos. Peça que os seus sonhos sejam iluminados pelo espírito e que contenham os ensinamentos que a Lua possa dar. Aqueça óleo de jasmim num recipiente próprio ou despeje-o na água do banho, antes de dormir. Repita para si mesmo: "Vou lembrar-me dos meus sonhos."

domingo, 19 de setembro de 2010

Cinderela e a aveleira



Há muito tempo, a esposa de um rico comerciante adoeceu gravemente e, sentindo o seu fim  aproximar-se, chamou a sua única filha e disse-lhe:
- Querida filha, continua piedosa e boa menina que Deus te protegerá sempre. Lá do céu olharei por ti, e estarei sempre a teu lado. Mal acabou de dizer isto, fechou os olhos e morreu.

A jovem ia todos os dias visitar o túmulo da mãe. Veio o inverno, e a neve cobriu o túmulo com o seu alvo manto. Chegou a primavera, e o sol derreteu a neve. Foi então que o viúvo resolveu  casar-se outra vez. A nova esposa trouxe as suas duas filhas, ambas bonitas, mas só exteriormente. As duas tinham a alma feia e cruel. A partir desse momento, dias difíceis começaram para a pobre enteada.

- Esta imbecil não vai ficar no quarto connosco! - protestaram as moças.
- O lugar dela é na cozinha! Se quiser comer pão, que trabalhe!
Tiraram-lhe o vestido bonito que usava, obrigaram-na a vestir outro, velho e desbotado, e a calçar tamancos.
- Vejam só como está toda enfeitada, a orgulhosa princesinha de antes! -disseram a rir, levando-a para a cozinha.


A partir de então, ela foi obrigada a trabalhar, da manhã à noite. Tinha de  levantar-se de madrugada, para ir buscar água e acender o fogo. Só ela cozinhava e lavava para todos. Como se tudo isso não bastasse, as irmãs humilhavam-na. Espalhavam lentilhas e feijões nas cinzas do fogão e obrigavam-na a apanhá-los um a um. À noite, exausta de tanto trabalhar, a jovem não tinha onde dormir e era obrigada a deitar-se nas cinzas do fogão. E, como andasse sempre suja e cheia de cinza, chamavam-na de Cinderela.

Uma vez, o pai resolveu ir a uma feira. Antes de sair, perguntou às enteadas o que desejavam que ele trouxesse.
- Vestidos bonitos- disse uma.
- Pérolas e pedras preciosas - disse a outra.
- E tu, Cinderela, o que queres? - perguntou o pai.
- No caminho de volta, pai, quebre o primeiro ramo que bater no seu chapéu e traga-o para mim.

O pai partiu para a feira, comprou vestidos bonitos para uma das enteadas, pérolas e pedras preciosas para a outra e, de volta a casa, quando cavalgava por um bosque, um ramo de aveleira bateu no seu chapéu. Quebrou o ramo e levou-o. Ao chegar a casa, deu às enteadas o que haviam pedido e à Cinderela o ramo de aveleira. Ela agradeceu, levou o ramo para o túmulo da mãe, plantou-o ali, e chorou tanto que suas lágrimas regaram o ramo. Este cresceu e tornou-se numa linda aveleira.



Três vezes, todos os dias, a menina ia chorar e rezar debaixo dela. Sempre que a via chegar, um passarinho branco voava para a árvore. Um dia, o rei mandou anunciar uma festa, que duraria três dias. Todas as jovens bonitas do reino seriam convidadas, pois o filho dele queria escolher entre elas aquela que seria a sua futura esposa. Quando souberam que também deveriam comparecer, as duas filhas da madrasta ficaram contentíssimas.

- Cinderela! - gritaram. - Vem pentear o nosso cabelo, escovar os nossos sapatos e  ajudar-nos a vestir, pois vamos a um baile no castelo do rei!
Cinderela obedeceu chorando, porque ela também queria ir ao baile. Perguntou à madrasta se poderia ir e esta respondeu:
- Tu, Cinderela! Suja e cheia de pó, queres ir à festa? Como vais dançar, se não tens roupa nem sapatos?
Mas a Cinderela insistiu tanto, que no fim ela disse:
- Está bem. Despejei nas cinzas do fogão um tacho cheio de lentilhas. Se conseguires apanhá-las todas em duas horas, poderás ir.

A jovem saiu pela porta dos fundos, correu para o quintal e chamou:
- Mansas pombinhas e rolinhas!
Passarinhos do céu inteiro!
Venham ajudar-me a apanhar lentilhas!
As boas vão para o tacho!
As más para o vosso papo!

Logo entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas; a seguir, vieram as rolinhas e, por último, todos os passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombas baixavam a cabecinha e pic, pic, pic, apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. As outras avezinhas faziam o mesmo. Não levou nem uma hora, o tacho ficou cheio e as aves todas voaram para fora.

Cheia de alegria, a menina pegou o tacho e levou-o à madrasta, certa de que agora poderia ir à festa. Porém a madrasta disse:
- Não, Cinderela. Não tens roupa e não sabes dançar. Só irias ser alvo da chacota de todos.
Como a menina começou a chorar, ela propôs:
- Se conseguires encher dois tachos de lentilhas apnhadas das cinzas numa hora, poderás ir connosco.
Enquanto isso, pensou consigo mesma: “Ela não vai conseguir…”

Assim que a madrasta acabou de espalhar os grãos nas cinzas, Cinderela correu para o quintal e chamou:
- Mansas pombinhas e rolinhas!
Passarinhos do céu inteiro!
Venham ajudar-me  a apanhar lentilhas!
As boas vão para o tacho!
As más para o vosso papo!

E entraram pela janela da cozinha duas pombas brancas; a seguir vieram as rolinhas e, por último, todos os passarinhos do céu chegaram numa revoada e pousaram nas cinzas. As pombas abaixavam a cabecinha e pic, pic, pic, apanhavam os grãos bons e deixavam cair no tacho. Os outros pássaros faziam o mesmo. Não passou nem meia hora, e os dois tachos ficaram cheios. As aves saíram voando pela janela.

Então, a menina levou os dois tachos para a madrasta, certa de que, desta vez, poderia ir à festa.
Porém, a madrasta disse:
- Não adianta, Cinderela! Não vais ao baile! Não tens vestido, não sabes dançar e só nos farias passar vergonhas! - E, dando-lhe as costas, partiu com as suas orgulhosas filhas.

Quando ficou sozinha, Cinderela foi ao túmulo da mãe e debaixo da aveleira, disse:
-Balança e agita-te,
árvore adorada,
cobre-me toda
de ouro e prata!

Então o pássaro branco atirou-lhe um vestido de ouro e prata e sapatos de seda bordada de prata. Cinderela vestiu-se e foi para a festa. Estava tão linda, no seu vestido dourado, que nem as irmãs, nem a madrasta a reconheceram. Pensaram que fosse uma princesa estrangeira; para elas, Cinderela só poderia estar em casa, apanhando lentilhas das cinzas.

Assim que a viu, o príncipe veio a seu encontro e, pegando-lhe a mão, levou-a para dançar. Só dançou com ela, sem largar a sua mão por um instante. Quando alguém a convidava para dançar, ele dizia:
- Ela é a minha dama. Dançaram até altas horas da noite até que Cinderela quis voltar para casa.
- Eu acompanho-a - disse o príncipe. Na verdade, ele queria saber a que família ela pertencia. Mas Cinderela conseguiu escapar, correu para casa e escondeu-se no pombal.

O príncipe esperou o pai dela chegar e contou-lhe que a jovem desconhecida tinha saltado para dentro do pombal. “Deve ser a Cinderela…”, pensou o pai. E mandou vir um machado para arrombar a porta do pombal. Mas não havia ninguém lá dentro. Quando entraram em casa, encontraram Cinderela com as suas roupas sujas, dormindo nas cinzas, à luz mortiça de uma lamparina.

A verdade é que, assim que entrou no pombal, a menina saiu pelo lado de trás e correu para a aveleira. Ali, rapidamente tirou o seu belo vestido e deixou-o sobre o túmulo. Veio o passarinho, apanhou o vestido e levou-o. Ela vestiu novamente o seu vestido velho e sujo, correu para casa e  deitou-se nas cinzas da cozinha.

No dia seguinte, o segundo dia da festa, quando os pais e as irmãs partiram para o castelo, Cinderela foi até a aveleira e disse:
- Balança e  agita-te,
árvore adorada,
cobre-me toda
de ouro e prata!

E o pássaro atirou-lhe um vestido ainda mais bonito que o da véspera. Quando ela entrou no salão assim vestida, todos ficaram pasmados com sua beleza. O príncipe, que a esperava, tomou-lhe a mão e só dançou com ela. Quando alguém convidava a jovem para dançar, ele dizia:
- Ela é a minha dama.



Já era noite avançada quando Cinderela quis ir-se embora. O príncipe seguiu-a, para ver em que casa entraria. A jovem seguiu o seu caminho e, inesperadamente, entrou no quintal atrás da casa. Ágil como um esquilo, subiu pela ramagem de uma frondosa pereira carregada de frutos que havia ali. O príncipe não conseguiu descobri-la e, quando viu o pai dela chegar, disse:
- A moça desconhecida escondeu-se naquela pereira. “Deve ser a Cinderela”, pensou o pai. Mandou buscar um machado e derrubou a pereira. Mas não encontraram ninguém na ramagem.

Como na véspera, Cinderela já estava na cozinha dormindo nas cinzas, pois havia escorregado pelo outro lado da pereira, correra para a aveleira, e devolvera o lindo vestido ao pássaro. Depois, vestiu o feio vestidinho de sempre, e correu para casa.

No terceiro dia, assim que os pais e as irmãs saíram para a festa, Cinderela foi até o túmulo da mãe e pediu à aveleira:
- Balança  e  agita-te,
árvore adorada,
cobre-me toda
de ouro e prata!

E o pássaro atirou-lhe o vestido mais sumptuoso e brilhante jamais visto, acompanhado de um par de sapatinhos de puro ouro. Ela estava tão linda, tão linda, que, quando chegou ao castelo, todos emudeceram de assombro. O príncipe só dançou com ela e, como das outras vezes, dizia a todos que vinham pedir-lhe para dançar:
- Ela é a minha dama.

Já era noite alta, quando Cinderela quis voltar para casa. O príncipe tentou segui-la, mas ela escapuliu tão depressa, que ele não pôde alcançá-la. Dessa vez, porém, o príncipe usou um estratagema: untou com pez um degrau da escada e, quando a moça passou, o sapato do pé esquerdo ficou agarrado. Ela deixou-o ali e continuou a correr.

O príncipe pegou o sapatinho: era pequenino, gracioso e todo de ouro. No outro dia, de manhã, ele procurou o pai e disse:
- Só me casarei com a dona do pé que couber neste sapato.



As irmãs de Cinderela ficaram felizes e esperançosas quando souberam disso, pois tinham pés delicados e bonitos. Quando o príncipe chegou à casa delas, a mais velha foi para o quarto acompanhada da mãe e experimentou o sapato. Mas, por mais que se esforçasse, não conseguia meter dentro dele o dedo grande do pé. Então, a mãe deu-lhe uma faca, dizendo:
- Corta o dedo. Quando  fores rainha, andarás muito pouco a pé.

Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando a dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele recebeu-a como sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo. Quando passavam pelo túmulo da mãe de Cinderela, que ficava no caminho, duas pombas pousaram na aveleira e cantaram:
- Olha para trás! Olha para trás!
Há sangue no sapato,
que é pequeno demais!
Não é a noiva certa
que vai sentada atrás!

O príncipe virou-se, olhou para o pé da moça e logo viu o sangue escorrendo do sapato. Fez o cavalo voltar e levou-a para a casa dela. Ao lá chegar, ordenou à outra filha da madrasta que calçasse o sapato. Ela foi para o quarto e calçou-o. Os dedos do pé entraram facilmente, mas o calcanhar era grande demais e ficou de fora. Então, a mãe deu-lhe uma faca dizendo:
- Corta um pedaço do calcanhar. Quando fores rainha, andarás muito pouco a pé.

Assim fez a moça. O pé entrou no sapato e, disfarçando a dor, ela foi ao encontro do príncipe. Ele aceitou-a como sua noiva e levou-a na garupa do seu cavalo.Quando passavam pela aveleira, duas pombinhas pousaram num dos ramos e cantaram:
- Olhe para trás! Olha para trás!
Há sangue no sapato,
que é pequeno demais!
Não é a noiva certa
que vai sentada atrás!

O príncipe olhou para o pé da moça, viu o sangue escorrendo e a meia branca, vermelha de sangue. Então virou seu cavalo, levou a falsa noiva de volta para casa e disse ao pai:
- Esta também não é a verdadeira noiva. Não têm outra filha?
- Não!- respondeu o pai - A não ser a pequena Cinderela, filha de minha falecida esposa. Mas é impossível que seja ela a noiva que procura.

O príncipe ordenou que fossem buscá-la.
- Oh, não! Ela está sempre muito suja! Seria uma afronta trazê-la à vossa presença! - protestou a madrasta.
Porém o príncipe insistiu, exigindo que ela fosse chamada. Depois de lavar o rosto e as mãos ela veio, curvou-se diante do príncipe e pegou o sapato de ouro que ele lhe estendeu. Sentou-se num banquinho, tirou do pé o pesado tamanco e calçou o sapato, que lhe serviu como uma luva. Quando ela se levantou, o príncipe viu o seu rosto e reconheceu logo a linda jovem com quem havia dançado.
- É esta a noiva verdadeira! — exclamou, feliz.

A madrasta e as filhas ficaram brancas de raiva. O príncipe ergueu Cinderela, colocou-a na garupa do seu cavalo e partiram. Quando passaram pela aveleira, as duas pombinhas brancas cantaram:
- Olha pare trás! Olha pare trás!
Não há sangue no sapato,
que serviu bem demais!
Esta é a noiva certa.
Podes ir em paz!

E, quando acabaram de cantar, elas voaram e foram pousar, uma no ombro direito de Cinderela, outra no esquerdo; ali ficaram. Quando o casamento de Cinderela com o príncipe se realizou, as falsas irmãs foram à festa. A mais velha ficou à direita do altar, e a mais nova, à esquerda. Subitamente, sem que ninguém pudesse impedir, a pomba pousada no ombro direito da noiva voou para cima da irmã mais velha e furou-lhe os olhos. A pomba do ombro esquerdo fez o mesmo com a mais nova, e ambas ficaram cegas para o resto das suas vidas.

sábado, 18 de setembro de 2010

História de Encantar


My Brightest Diamond - Inside a Boy

terça-feira, 14 de setembro de 2010

A Estrela de Seis Pontas

VIBRAÇÃO: o coração
PALAVRAS-CHAVE: unificação, união, equilíbrio
PONTO ALTO: o seu coração guarda todas as respostas
PONTO BAIXO: encontre meios de harmonizar os seus sentimentos

A Estrela de Seis Pontas, também conhecida como Estrela de Davi, é um símbolo extremamente antigo, usado há milhares de anos pelos praticantes de magia. Simboliza a união das forças masculinas e femininas no ponto em que, organicamente, isso é possível - no coração. Essa Estrela é também o símbolo sânscrito do coração (Anahata), o que indica que o amor é de facto a chave da vida na terra.

A Estrela lembra-nos a importância da harmonia e do equilíbrio e faz-nos analisar o modo como nos relacionamos com o mundo. Precisamos encontrar o ponto de unificação, aquele em que o nosso coração está realmente aberto. A alquimia derivada da fusão do masculino com o feminino pode criar algo completamente novo e original.

EXERCÍCIO DE MAGIA - Meditação do Coração

Usando sal ou giz, trace no chão uma estrela de seis pontas, grande o suficiente para que se possa sentar dentro dela. Coloque uma vela verde em cada uma das pontas. Segurando na mão uma esmeralda ou um rubi, medite sobre a unificação do seu coração. Todos os dias, durante dez minutos ou mais, procure inspirar amor e expirar medo.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A Varinha


VIBRAÇÃO: éteres formadores
PALAVRAS-CHAVE: intenção, foco, acção
PONTO ALTO: manter-se focalizado
PONTO BAIXO: vencer a apatia

As Varinhas são como que uma extensão da nossa energia pessoal e possibilitam um ponto focal para a nossa intenção, além de indicarem uma direcção. Estes instrumentos podem ser consagrados a qualquer divindade ou prática. Só o que varia é a maneira como são feitos. O tirso de Dioniso, por exemplo, é encimado por uma pinha e usado para representar a fertilidade. As Varinhas ainda são usadas nos dias de hoje pelos praticantes de magia e pelas fadas-madrinhas!

As Varinhas representam as intenções e o foco dessas mesmas intenções. Elas chamam-nos a atenção para a necessidade de não agir às cegas. Ao invés disso, procuremos saber onde vamos e por quê; quais as nossas motivações, ou então quais as intenções de alguém em relação a nós.

A Varinha assinala que o Universo espera para agir de acordo com as decisões que tomamos, dando-nos o privilégio de escolhermos o caminho que preferimos seguir.

domingo, 12 de setembro de 2010

A Serpente


VIBRAÇÃO: raio da criação
PALAVRAS-CHAVE: sexualidade, sabedoria
PONTO ALTO: a energia da vida está a aumentar; seja sábio
PONTO BAIXO: as inibições estão em evidência

As serpentes são associadas a um grande número de divindades, entre elas Cernunos, Cerridwen e Némesis. A serpente com cabeça de carneiro é um símbolo que muitas vezes é associado ao Deus Cornífero. O seu poder é também retratado nos mitos de Quetzacoatl (a serpente emplumada dos Maias) e do de Ouroboros (a serpente que circunda a terra).

Quando a Serpente entra na nossa vida, ficamos cheios de energia criativa. Assim como a Fénix que se ergue das cinzas, sentimos que somos capazes de superar qualquer desafio. A Serpente é associada à kundalini, a energia da criação.

Talvez tenhamos também de "trocar de pele", depois de passarmos por uma experiência de vida que nos amadureceu.

O poder da Serpente traz-nos o dom da intimidade. Observemos se costumamos evitar contactos mais íntimos com as outras pessoas ou se ansiamos por eles. Deixemos o seu poder despertar e expressar-se em todas as áreas da nossa vida.

EXERCÍCIO DE MAGIA: Dança Celestial

Numa noite de lua cheia, prepare-se com um banho de óleos perfumados. Crie uma atmosfera envolvente com velas, incenso e música. Deixe o corpo acompanhar o ritmo da música e da energia que se está a criar. Liberte-se das inibições, deixando que, nessa noite, a energia o faça dançar entre as estrelas.

sábado, 11 de setembro de 2010

O milagre da defunta

H. Rheam, Sleeping Beauty

GUIMAR

Era a menina mais linda
Que naquela terra havia;
Tão formosa e tão discreta
De outra igual se não sabia.
Muito lhe quer Dom João,
Muito de mais lhe queria:
Seus amores, seus requebros
Não cessam de noite e dia.
Por fidalgo e gentil moço
Ninguém tanto a merecia;
Senão que o pai da donzela
Outro conselho seguia:
Casá-la quer muito rica
Com um mercador que aí havia,
Sem fazer caso de amores,
Sem lhe importar fidalguia.
Dom João, quando isto soube,
Por pouco se não morria:
Foi-se dali muito longe
Sem dizer para onde ia.
Três meses por lá andou,
Três meses nessa agonia;
A vida que lhe pesava
Sofrê-la já não podia.
Mandou selar seu cavalo
Sem cuidar no que fazia;
Deitou por esses caminhos
Sem saber adonde ia.
O cavalo é quem mandava,
Cavaleiro obedecia.
Passou por terras e terras,
Nenhuma não conhecia.
À sua tinha chegado,
Onde estava não sabia.
Era por manhã de Maio,
Todo o campo florecia,
Os passarinhos cantavam,
O prado verde sorria;
Lá de dentro da cidade
Um triste clamor se ouvia:
Eram sinos a dobrar,
E era toda a clerezia,
Eram nobre, era povo
Que da igreja saía...
Entrou de portas a dentro,
De rua em rua seguia,
Chegou à de sua dama,
Essa sim que a conhecia.
As casas onde morava,
Janelas aonde a via,
Tudo é coberto de preto,
Mais preto que ser podia.
Mandou chamar uma dona
Que ela consigo trazia:
- «Dizei-me por Deus, senhora,
Dizei-me por cortesia,
Esse luto tão pesado
Por quem trazeis, que seria?»
- «Trago-o por minha senhora,
Dona Guimar de Mexia,
Que é com Deus a sua alma,
Seu corpo na terra fria.
E por vós foi, Dom João,
Por vosso amor que morria.»
Dom João quando isto ouviu
Por morto em terra caía,
Mas a dor era tamanha
Que a força dela vivia.
Os seus olhos não choravam,
Sua boca não se abria.
Mirava gente em redor
Para ver o que faria.
Vestiu-se todo de preto,
Mas preto que ser podia,
Foi-se direto à igreja
Onde sua dama jazia:
- «Eu te rogo, sacristão,
Por Deus e Santa Maria,
Eu te rogo que me ajudes
A erguer esta campa fria.»
Ali a viu tão formosa
Tal como dantes, a via;
Ali, morta, sepultada,
Inda outra igual não havia,
Pôs os joelhos em terra,
Os braços ao céu erguia,
Jurou a Deus e a sua alma
Que mais a não deixaria.
Puxou de seu punhal de oiro
Que na cintura trazia,
Para a acompanhar na morte
Já que em vida não podia.
Mas não quis a Virgem Santa,
A Virgem Santa Maria
Que assim se perdesse uma alma
Que só de amor de perdia.
Por juízo alto de Deus
Um milagre se fazia:
A defunta a mão direita
Ao seu amante estendia
Seus lindos olhos se abriram,
A sua boca sorria;
Volta a vida que se fora,
Com todo o amor que não se ia.
Seu pai, o foram buscar,
Que já estava na agonia;
Vêm amigos, vêm parentes,
Todos em grande alegria.
Dão graças à Santa Virgem,
Cujo milagre seria;
E a Dom João dão a esposa,
Que tão bem a merecia.

Romanceiro, de Almeida Garrett

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Lenda de Santarém



Santarém, à qual já se chamou «Varanda do Ribatejo», é uma cidade de antiquíssimo povoamento. Crê-se que a sua fundaçao remonta a uns dez séculos antes da era cristã. Segundo a lenda, o seu nome terá sido, no início, Esca-Abidis.

HISTÓRIA:
Nos meados do século X antes de Cristo foi tentada a sua conquista por Fenícios e Gregos; quatro séculos depois, foi a vez de os Cartagineses tentarem, igualmente sem resultado, o assalto ao pequeno burgo.

No início do século IV antes da era cristã, povos de raça céltica atacaram a cidadela e depois de longo assédio acabaram por conseguir a sua conquista. Juntaram-se então aos autóctones, lusitanos ao que consta, e, mediante uma política de alianças, acabaram sendo integrados e assimilados pela população.

Quando os Romanos invadiram a Península, Santarém, pela sua situação estratégica, foi um dos pontos no qual incidiu o desejo de conquista dos invasores. Ao fim de longos esforços, a praça foi conquistada e
quando Júlio César pacificou a terra ibérica foi-lhe dado o nome de Proesidium Jullíum. No dealbar da era cristã, Octávio mudou-lhe o nome para Scalabicastrum, e fez dela sede de uma das províncias em que dividiu a Península.

Desde sempre considerada uma das povoações mais importantes da sua região, não só pela situação quase inexpugnável das suas muralhas, como pela riqueza dos campos circundantes, Santarém veio a ser presa cobiçada pelos povos bárbaros que invadiram o Império Romano. Assim, os Alanos e os Vândalos chamaram-lhe Escalabis, os Suevos, mais tarde, Calabicastrum, e os Visigodos mudaram-lhe o nome para Santa Irene ou Santa Helena, em memória de uma virgem sacrificada cujo corpo foi encontrado a boiar nas águas do Tejo, frente à cidade.

Anos mais tarde, aquando da invasão árabe da Península, a cidade caiu nas mãos dos Mouros, que lhe chamaram Chantarin, Chantirein ou Xantarin. Com a reconquista cristã, Santarém, umas vezes moura, outras cristã, ao fim de muitos anos de cobiça e luta, acabou por ser reconquistada para os cristãos, definitivamente,por Afonso Henriques, que a tomou de assalto em 13 de Março de 1147.

LENDA:
Segundo conta a lenda, em 1215 a. C., reinava sobre a próspera Lusitânia um príncipe chamado Gergoris ou Gorgoris. Chamavam a este homem «o Melícola», porque ensinara os seus a extrair o mel dos favos das abelhas.

Certo dia, Ulisses da Ítaca, que vagabundeava pelos mares na sua penosa Odisseia de uma década, chegou à foz do Tejo com alguns navios. Achando a amenidade e o encanto do país ideais para o seu descanso, decidiu fixar-se na região, a fim de recuperar as forças perdidas e aguardar a melhor ocasião de tornar à Grécia.

Hóspede de Gorgoris, Ulisses, como visitante de honra, tinha permissão de vaguear por onde fosse seu desejo. Deste modo, acabou conhecendo a bela Calipso,filha única do seu hospedeiro. E do longo e descuidado convívio dos dois jovens foi nascendo a paixão. Destes amores com Ulisses teve Calipso um menino, ao qual chamou Ábidis.

Gorgoris, mal soube do caso, ficou furioso e procurou Ulisses para o castigar. Este, porém, avisado da fúria de «o Melícola», juntara à pressa os companheiros e zarpara rápido, rumo à Ítaca.

Entretanto, o príncipe lusitano, incapacitado de exercer o seu legítimo desejo de vingança, querendo apagar os traços da passagem do grego e para que não ficasse memória do acto impensado de Calipso, mandou que encerrassem a criança num cesto e a lançassem ao Tejo.O rio encarregar-se-ia de destruir aquele vestígio dos amores de sua filha e a justiça far-se-ia!

A maré subia na hora em que o cesto foi deixado sobre as águas e, em vez de a criança ser atirada para a foz pela corrente, foi empurrada rio acima até encalhar numas brenhas, perto da gruta que servia de covil a uma cerva, ou, segundo outras versões, a uma loba. O animal, ouvindo o choro da criança, acercou-se do cesto, farejou e, vendo que era apenas uma cria esfomeada,amamentou-a e criou-a.

O menino foi crescendo até que se fez homem. Alimentava-se de frutos silvestres e de peixe do rio, e à noite, quando lhe chegava o sono, alapava-se em qualquer gruta juntamente com a fera que a habitasse, porque de todas era familiar. Durante o dia corria pelas brenhas, tomava banho no rio e brincava com os animais selvagens, aprendendo a viver naqueles ermos.

Certa manhã, caçadores lusitanos embrenharam-se mais nos silvados da margem do Tejo e, de súbito, viram aquele rapaz saltando valados como se fora veado. Acharam estranho o espectáculo insólito daquele homem vivendo só por ali e, cheios de curiosidade, decidiram tentar capturá-lo. Armaram-lhe uma cilada com redes e esperaram calmamente a sua passagem. Desprevenido, Abidis acabou por ser capturado, apesar da resistência feroz que opôs aos caçadores, e levado à presença de uma mulher: Calipso, sua mãe.


Esta, depois do primeiro espanto, observou atentamente o homem selvagem que lhe traziam e acabou por descobrir, por uma cicatriz que lhe ficara de nascença, que aquele era o seu filho abandonado. Hesitou a princesa no que fazer, recordando a fúria de Gorgoris há vinte anos atrás.

A notícia, porém, chegou ao velho «Melícola» antes que Calipso decidisse o que fazer, pois os próprios caçadores se encarregaram de a espalhar pela Lusitânia. Mas haviam passado vinte longos anos sobre aquele dia em que Gorgoris mandara deitar a criança ao rio. Velho de setenta anos e sem herdeiro varão, o príncipe ponderou no que fazer do rapaz e acabou por se decidir a educá-lo como seu sucessor.

Em boa hora «o Melícola" educou Ábidis, porque por sua morte, o jovem foi rei dos Lusitanos e ficou nos anais do seu povo como rei justo, sábio e humano. E não esquecendo os acontecimentos ligados ao seu nascimento, decidiu construir naquele local inculto e silvestre uma cidade que lembrasse para sempre os seus primeiros vinte anos de vida. E à bela povoação que mandou construir chamou Esca-Ábidis, que significa manjar do príncipe Ábidis.

Fernanda Frazão, Lendas Portuguesas

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Nosferatu

Nosferatu é um filme clássico do expressionismo alemão, baseado em Drácula, de Bram Stoker (1897). Produzido em 1922 por Murnau, as suas imagens de horror ainda conseguem surpreender. Ao invés de Conde Drácula, Nosferatu é Conde Orlok, uma das mais fiéis representações filmícas do vampiro. Alto, esguio, esquálido, com orelhas, nariz e dentes pontiagudos, Murnau consegue representar com sucesso a figura da personagem macabra de Stoker.

O Conde Orlock, é uma figura estranha e aterrorizante. A sua imagem expressa o próprio conteúdo do seu ser maligno. Não existe em Nosferatu a dissimulação/ocultação da natureza maligna do vampiro. O mal está entre nós e assim se apresenta em corpo, espírito e verdade. Como Mr. Hyde, a personagem de Robert Louis Stevenson em O Médico e o Monstro (de 1886), Nosferatu consegue ser a expressão em imagem da essência do Mal. Como diz a abertura do filme, “Nosferatu é a palavra que se parece com o som do pássaro da morte da meia-noite”.

Nosferatu vive nas sombras e na escuridão. É um ser nocturno, de um mundo das trevas, perdido no passado de uma terra distante (a Transilvânia). “Os fantasmas da noite parecem reviver das sombras do castelo” – diz o narrador de Nosferatu. É na escuridão que está o horror do vampiro.

É interessante notar que a lenda do vampiro se difunde nos primórdios da sociedade tecnológica, da II Revolução Industrial, onde a invenção da eletricidade – ou da lâmpada elétrica, em 1879 - deu o “golpe de misericórdia” nos poderes da noite e da escuridão.


Nosferatu, de F.W.Murnau, 1922


(este post buscou a sua inspiração aqui)

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O Castanheiro dos Amores



Diz  a  lenda que um fidalgo chamado Martim de Sousa viveu o pouco tempo da sua vida batalhando por Portugal nas hostes de Mestre de Avis e de Nun'Alvares, até que, em Aljubarrota, perdeu a vida às mãos dos castelhanos.

Martim de Sousa estava apaixonado por uma donzela, filha do castelão D. Lopo Soeiro, rico homem de Viseu. Na véspera da partida para a batalha de Aljubarrota, encontraram-se os dois namorados sob o «Castanheiro dos Amores». Era noite e era a hora em que a treva é mais densa e pelo espaço imenso do silêncio transcorrem os duendes fugitivos. Junto ao castanheiro choravam abraçados e soluçantes os namorados.

A bela pedia a Martim que mal terminasse a luta voasse até ali, aos pés da velha árvore, a restituir-Ihe a vida que ele levava consigo para os campos de batalha. E Martim, desapertando o pelote, colocou a mão trémula da sua amada sobre o coração jurando solenemente cumprir o que lhe pedia.

Pelejou-se a batalha, mas Martim de Sousa não voltou porque seu corpo ficou perdido entre os muitos caidos naquele campo. Todavia, cumpriu-se o juramento: volvido urn ano, o fantasma do cavaleiro apaixonado apareceu alta noite, à mesma hora, no «Castanheiro dos Amores». E todos os anos, naquele dia, tornou à velha arvore, tantos os anos quantos demorou a donzela a juntar-se-lhe no Céu. Dava sempre três voltas em derredor da árvore sagrada e chamava soluçante pela filha de D. Soeiro.


Fernanda Frazão, Lendas Portuguesas, Amigos do Livro Editores

domingo, 5 de setembro de 2010

O Pentáculo


VIBRAÇÃO: os elementos
PALAVRAS-CHAVE: evocação, manifestação, protecção
PONTO ALTO: os ancestrais guiam-nos pelo caminho da sabedoria
PONTO BAIXO: é necessário equilibrar as energias; atraímos tudo o que precisamos para progredir

O Pentáculo é o símbolo sagrado da bruxaria. Cada ponta da estrela representa um elemento, sendo que a ponta voltada para cima aspira ao espírito. Nas cerimónias sagradas, o Pentáculo simboliza o elemento terra e é usado na magia das velas para concretizar no plano terrestre sonhos e desejos. O Pentáculo é, acima de tudo, um símbolo de protecção usado para orientar pelos caminhos da sabedoria aquele que o usa.

O Pentáculo revela-nos a necessidade de acreditarmos em nós próprios. Somos filhos da natureza pelo que podemos viver em harmonia se nos lembrarmos dos nossos antigos dons e reverenciarmos os velhos costumes. O Pentáculo pode revelar a necessidade de equilibrarmos energias além de conferir um carácter sagrado a tudo o que fazemos. É altura de aprender, relembrar e aplicar o conhecimento.

Os Elementos:

FOGO: criatividade, raiva, ego, compaixão
AR: comunicação, viagem, mudança
TERRA: necessidades físicas e materiais
ÁGUA: cura, relacionamentos, amor
ESPÍRITO: alma, propósito, rumo na vida

sábado, 4 de setembro de 2010

O convite da mirra



No Algarve, onde esta história tradicional corre oralmente, chamam mirra ao esqueleto.

Conta-se que um rapaz muito folgazão, vendo aproximar-se o seu aniversário, decidiu dar uma grande festa que durasse o dia inteiro. Algum tempo antes do banquete, passou pelas moradas de todos os amigos, convidando-os prazenteiramente a que fossem a sua casa jantar e cear no dia dos seus anos.

De volta a casa, fazendo caminho pelas portas do cemitério, encontrou ainda urm amigo e, depois de o convidar, deixou-se ficar mais urn bocado a conversa,  muito satisfeito. De repente, deu com os olhos numa mirra, ainda revestida com pedaços de carne, e que  estava pegada a uma parede. Na euforia em que se encontrava,  virou-se para a mirra e, a brincar, disse-lhe:

- Se quiseres ir tambem ao banquete dos meus anos...
- Lá irei! - respondeu a mirra. O rapaz ficou espantado par ter ouvido resposta à sua brincadeira e, pensando ser partida do amigo, perguntou-lhe:
- 0 quê?! Disseste alguma coisa?
-Eu cá não!

Enfiado, o rapaz nao se atreveu a contar o que lhe parecera ouvir e, amedrontado, despediu-se do outro,
partindo a passos rápidos e largos. A caminho de casa passou pela sacristia e, com o susto que levava, tratou de confessar ao padre o acontecido.

- Ai, homem, 0 que foste tu fazer! Entao não sabes que com os mortos não se brinca?!
- E agora, senhor prior? ..
- Agora sujeitas-te, não tens outro remédio! Manda pôr na mesa um talher a contar com a mirra, ainda que seja só como satisfação do convite.

Cabisbaixo, o rapaz foi para casa e calou-se muito bem calado.

No dia da festa, mandou pôr na mesa os talheres e dispor os lugares, sem se esquecer da mirra. Todo o dia do aniversário foi de folguedos e danças. À noite, a hora da ceia, sentaram-se a comer e a beber, mas da mirra, nada.

Ao soar a primeira badalada da meia-noite, ainda estavam todos sentados a mesa, ouviu-se urn bater seco na aldraba da porta. O rapaz foi abrir e viu, esbaforido, a mirra. Esta entrou naturalmente, foi sentar-se no lugar vago e comeu até se empanturrar. Quando terminou, levantou-se e disse para o rapaz, à laia de agradecimento:

- Já que me deste o prazer de vir à tua festa de anos, convido-te eu agora para ires cear comigo, amanhã
por esta hora!
Dito isto, saiu porta fora, deixando atrás de si um rasto de frio que entrou na alma do aterrado aniversariante.
 
Finda a festa, o rapaz foi deitar-se, mas não conseguiu pregar olho. Cada vez que de cansaço os olhos se lhe fechavam, via à sua frente aquela mirra sorrindo um sorriso descarnado, convidando-o para cear. Assim que o galo cantou a madrugada que chegava, o homem saltou da cama e foi dali ao padre, contar o que se passara e pedir conselho.

- Nao tens mais remédio senão ires, porque, onde quer que te escondas, a mirra vai buscar-te de rastos! Mas, olha: vou emprestar-te a capa com que digo missa e tu veste-la logo à noite! ...

O rapaz sujeitou-se. Durante o dia inteiro esteve sentado ao sol, pois sentia dentro de si um pavor tão frio que nada conseguia aquecer-lhe a alma. Noite velha foi para o adro da igreja esperar, tremendo como varas verdes. Era meia-noite em pino, bateu o rapaz à porta do cemitério. A mirra veio abrir e levou-o consigo por entre campas e jazigos. Andaram, andaram até que pararam num local onde estavam duas covas abertas de fresco.

- Vês estas covas aqui? - perguntou a mirra.
- Vejo.
- Pois uma é minha e a outra seria para ti. 0 que te vale é vires vestido como Cristo, senão!... Agora, sempre te digo, não voltes a brincar com os mortos! ... Vê lá bem o que te espera! ...

Subitamente, fez-se escuro como breu em volta do rapaz. Os fogos-fátuos que todo o caminho o haviam
alumiado desapareceram, o céu deixou de ter estrelas, nenhum ruído lhe penetrava o cérebro: era como se
estivesse enterrado vivo. Mas, do mesmo modo que isto lhe acontecera, viu-se no adro da igreja, são e
salvo, como se tudo não tivesse passado de um terrível pesadelo. Sentia a cabeça arder de febre, mas, sem
saber muito bem como, chegou a casa e meteu-se na cama.

Muitos dias lhe durou aquela doença, com a qual nenhum médico atinava. Acabou por curar-se com o tempo, e nunca, nunca mais voltou a meter-se com os mortos.




Fernanda Frazão, Lendas Portuguesas, Amigos do Livro Editores

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

A Vassoura


VIBRAÇÃO: chackra do sacro
PALAVRAS-CHAVE: limpeza, protecção, preparação
PONTO ALTO: prepare-se para diversão, brincadeiras e muita energia
PONTO BAIXO: livre-se da energia bloqueada ou estagnada

A Vassoura da bruxa é feita tradicionalmente com galhos de vidoeiro e é associada a Hécate - deusa grega da lua negra. A Vassoura é usada em rituais para varrer para longe energias psíquicas indesejáveis, e também em casamentos, quando os noivos saltam por cima da vassoura juntos.

Com a Vassoura, aumentamos a nossa energia pessoal, conseguindo perceber o que é preciso deitar fora na nossa vida. É um bom momento, portanto, para "esvaziar os armários". A Vassoura faz com que nos lembremos de nos apreciarmos mais a nós mesmos. Também pode aumentar a nossa consciência psíquica.

Referência Bibliográfica:

MORNINGSTAR, Sally, O Livro Wicca, Pensamento

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Sete Ais



Conta a lenda que quando Sintra ainda pertencia aos mouros, um dos primeiros cavaleiros cristãos a subir a serra de Xentra (como os mouros chamavam a Sintra) foi D. Mendo de Paiva. No meio da confusão da debandada de uns e chegada de outros, encontrou-se junto a uma pequena porta secreta por onde fugiram vários mouros da fortaleza. Entre eles viu uma moura muito bonita, acompanhada pela velha aia.

Ao dar com os olhos no cristão, a moura suspirou por se sentir descoberta, e a velha, que ainda não reparara no cavaleiro, apressou-se a pedir-lhe que não suspirasse. Porém, reparando no olhar da ama, fixo num ponto determinado, seguiu-o e viu finalmente o inimigo, que sorridente lhe disse:

- Acaba o que ias dizendo!

Mas a velha, de sobrolho carregado, respondeu-lhe:

- O que tenho para dizer não serve para ouvires, cáfir! Os cristãos já têm tudo quanto queriam: os nossos bens, as nossas terras, o castelo. Vai-te! Vai-te e deixa-nos em paz, conforme o combinado.

- Vai-te tu, velha! A rapariga é minha prisioneira!

A moura, ao ouvir tal coisa, suspirou novamente, de medo e comoção. A velha, ao ouvir aquele novo ai, achou que era melhor confessar o seu segredo ao cristão:

- Não digas mais nada, cristão! Não digas mais nada, que a minha ama carrega desde o berço uma terrível maldição!...

- Como assim velha?!- perguntou o cavaleiro, ao mesmo tempo que a moura dava o terceiro suspiro.

- Ah, cavaleiro! À nascença a minha ama foi amaldiçoada por uma feiticeira que odiava a sua mãe por lhe ter roubado o homem que amava. Fadou-a a morrer no dia em que desse sete ais... e como vês, já deu três!

D. Mendo deu uma alegre gargalhada, e a jovem outro ai.

- Não acredito nessas coisas, velha! Olha, a partir de agora ambas ficarão à minha guarda. Eu quero para mim a tua bela ama!

A moura suspirou de novo e a velha, numa aflição sem limites, gritou:

- Ouviste, cavaleiro, ouviste?! É o quinto ai! Que Alá lhe possa valer!

- Não tenhas medo! Espera aqui um pouco... Voltarei para vos levar a um sítio sossegado!

O cristão afastou-se rapidamente e, assim que desapareceu dentro das muralhas, um grupo de mouros que ouvira a conversa surgiu subitamente para roubar as duas mulheres. Com um golpe de adaga cortaram a cabeça à velha, que nem teve tempo de dar um ai. A jovem é que, ao ver a sua velha aia morrer daquele modo inesperado e cruel, soltou um novo e dolorido ai. Era o sexto, e o sétimo foi a última coisa que disse, no momento em que viu a adaga voltear para lhe cair sobre o pescoço.

Quando pouco depois D. Mendo voltou com uma escolta, ficou tristemente espantado: afinal cumprira-se a maldição!

D. Mendo jurou vingança e a partir desse dia tornou-se o cristão mais desapiedado que os mouros jamais encontraram no seu caminho.

E, em memória da moura que desejara e uma maldição matara, chamou àquele recanto de Sintra Seteais.

Ainda hoje, nos belos jardins de Seteais há um sítio onde se alguém disser um "ai" ouvirá um eco que o repetirá seis vezes, ouvindo-se assim sete ais em honra da moura que um dia lá morreu.
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