sábado, 31 de julho de 2010

Lammas


Lammas é o primeiro dos três festivais da colheita, também é conhecido como Lugnahsadh. Lugh, o deus celta guerreiro da luz e do sol, é evocado para dar protecção às colheitas nesta época de vulnerabilidade. Lugh é representado com corvos e um veado branco, por isso penas negras e imagens de cervos são apropriadas para este festival. Assar pães também é um costume tradicional nesta época.

Deuses e deusas das colheitas são celebrados para assegurar a continuação da fertilidade da terra e presta-se honra ao aspecto da fertilidade da união sagrada da Deusa e do Deus.

A confecção de bonecas de milho (pequenas figuras feitas com palha trançada) é um antigo costume pagão realizado por muitos Bruxos modernos como parte do rito do Sabbat Lammas. As bonecas são colocadas no altar do Sabbat para simbolizar a Deusa Mãe da colheita.É costume, em cada Lammas, fazer (ou comprar) uma nova boneca de milho e queimar a anterior (do ano passado) para dar boa sorte.

Lenda da Ponte da Aliviada

Existiu sobre o Tâmega, na região de Marco de Canaveses, uma velha ponte, a da Aliviada, à qual está ligada uma lenda curiosa e várias superstições populares.

Há muito tempo atrás, a ponte romana de Trajano estava em vias de ruir. S. Gonçalo de Amarante, condoído pelas sucessivas catástrofes que a falta da ponte infligia nas populações, decidiu construir uma nova que servisse toda a gente. O local da edificação foi escolhido por um anjo, que em sonhos indicou a Gonçalo em que ponto de Amarante deveria ser erguida para que bem servisse no presente e no futuro.

Uma outra razão, poré, levara o Santo à realização da sua obra: competir com o Diabo, que andava a construir uma ponte idêntica na Aliviada.

A obra do Diabo estava perfeita e corria muito mais veloz do que a do Santo. Tendo consciência disto, o Diabo quis aborrecer S. Gonçalo obrigando-o a confrontar a sua ponte com a dele e convidou-o a visitar a obra da Aliviada.

Ao Santo agradou o convite, uma vez que andava cheio de curiosidade e, por cortesia, retribuiu-o. O Diabo aceitou imediatamente, e quando viu a obra de S. Gonçalo desatou a rir. O homem, humilhado com as risadas desatinadas do outro, decidiu vingar-se, e como tinha aceitado visitar a obra da Aliviada, não quis perder mais tempo.

E lá foram de caminho, o Diabo conversando alegremente, o Santo intimamente preocupado com o que o esperava. Estava Gonçalo a pensar em como tiraria a sua desforra, quando o outro lhe apresentou a solução ao pedir-lhe que não benzesse a ponte. O Santo esteve a ponto de dar um salto de contentamento ante o que o Diabo lhe pedia. Com esforço, dominou a sua alegria e prometeu não dar a benção à nova obra.

Realmente, frente à ponte da Aliviada, o Santo sentiu-se envergonhado: a sua obra comparada com aquela era mesquinha. Assim, ainda mais determinado, começou a pôr em prática a sua vingança. Primeiro, elogiou muito a obra, depois passeou-se sobre a ponte, de um lado para o outro. E dando os parabéns ao Diabo peça bela obra que realizara, despediu-se dele levantando o seu cajado a modo de saudação, desenhando disfarçadamente uma cruz no ar, enquanto dizia:

- Se tu fosses por aqui, como vais por ali...

A ponte começou imediatamente a tremer até que ruiu com um estrondoso fragor. O Diabo, esse, correu dali para o alto de um monte, desatando a apredejar o Santo e a vociferar palavras só dele conhecidas.





Superstições

Diz a tradição que nesta ponte o Diabo frita sardinhas cujo chiadouro é ouvido por quem passa. A pessoa que cair à agua debaixo da ponte, nunca mais aparece. Nesse mesmo sítio, pela meia-noite em ponto, vagueia o seu fantasma embrulhado num lençol.

Quando um pai diz a um filho "diabos te levem" à hora a que o padre diz na missa "Amém", o Diabo leva a criança para a ponte da Aliviada. Depois é preciso lá ir o padrinho, a madrinha e um padre. O Diabo pergunta dentre os penedos:

- Como queres a criança? Como veio ou como está?

Se lhe respondem "como veio", a criança sai bem; se lhe dizem "como está", sai negra e comendo bichos, que é o sustento que o Diabo lhe dava.

Fernanda Frazão, Lendas Portuguesas, Amigos do Livro Editores

quarta-feira, 28 de julho de 2010

O Morcego


VIBRAÇÃO: chackra do terceiro olho
PALAVRAS-CHAVE: renascimento, mudança, despertar espiritual
PONTO ALTO: a consciência desperta o voo para a realidade
PONTO BAIXO: tudo aquilo por que passamos é passageiro

Os morcegos são os únicos mamíferos que voam. Os sentidos do tacto e da audição são extremamente apurados nesses animais, que se orientam por meio da ecolocalização. Reza a lenda que os morcegos dão às pessoas o poder de controlar demónios, além de trazer sorte àqueles que os avistam voando em plena luz do dia. Os morcegos são em geral associados ao período da lua negra, às artes mágicas e à feitiçaria.

O morcego simboliza a mudança de consciência, a expansão da vida espiritual, que nos leva a encarar de outra forma aspectos da nossa vida. Impera a necessidade de abandonar hábitos, padrões ou crenças obsoletas para estarmos preparados para os desafios que sempre acompanham a mudança. Daí que seja preciso estarmos dispostos a seguir em frente, livres das partes inúteis do nosso passado. Neste estado de espírito é natural que surjam dificuldades, restrições ou impedimentos - mas o morcego anuncia que o vazio interior em breve vai dar lugar à mudança...

EXERCÍCIO DE MAGIA- Esquecer o Passado

Na terceira noite de Lua Cheia, acenda uma vela azul escura e invoque Cassiel (anjo de Saturno, o planeta das lições e do passar do tempo). Esconjure as limitações - como negatividade ou estagnação - anotando-as por escrito numa folha de papel. Queime o papel na chama da vel, libertando-se assim dos padrões negativos. Apague a vela com todo o respeito.


Referência bibliográfica:

MORNINGSTAR, Sally, The Wicca Book, Godsfield Press, 2001

sábado, 24 de julho de 2010

O Cálice


VIBRAÇÃO: chackra do sacro
PALAVRAS-CHAVE: fertilidade, cura, harmonia
PONTO ALTO: somos receptáculos da graça divina
PONTO BAIXO: Visualize tudo aquilo em que gostaria de se transformar

O Cálice representa o elemento água, os sentimentos e emoções e os aspectos psíquicos e intutivos da vida. Também representa a fertilidade e é usado para celebrar a Deusa. O mais famoso dos Cálices é o lendário Santo Graal, que representa, segundo alguns, a linhagem sanguínea de Cristo e também o útero.

O Cálice indica que está na hora de seguir o fluxo, de sentir que a taça transborda com as dádivas oferecidas pela água. Se estivermos a passar por fase atribulada, de sentimentos exaltados, com a cura sugerida pelo Cálice podemos deixar que o fluxo da vida leve para longe essa turbulência e preparar-nos para uma época de fertilidade e crescimento.

Reflictamos sobre o que está contido no cálice da nossa essência e na melhor forma de nos curarmos a nós mesmos e aos que estão à nossa volta. Se registarmos os nossos sonhos, poderemos conseguir ouvir o que a água nos tem para dizer...


Referência bibliográfica:

MORNINGSTAR, Sally, The Wicca Book, Godsfield Press, 2001

sexta-feira, 23 de julho de 2010

The Sword in the Stone


Walt Disney - The Sword in the Stone

Glósóli


Sigur Ros - Glósóli

O Castelo de D. Branca


Em Currelos, no concelho de Carregal do Sal, há um antigo castelo quadrangular com janelas ogivais, ao qual o povo chama Castelo de D. Branca. Conta a lenda que D. Branca de Vilhena vivia feliz com seu marido no castelo das janelas ogivais até ao dia em que pariu um par de gémeos.

Não podendo acreditar que eram ambos filhos do mesmo pai e, por outro lado, tendo consciência absoluta de não ter conhecido outro homem, D. Branca entrou em pânico. Que diria de si aquele marido tão amigo? Certamente ia escorraçá-la mais os filhos, ou mandá-la expor no pelourinho para vergonha pública! Não, antes mandar matar uma das crianças e viver em paz o resto da vida!

Mandou chamar um pajem de sua muita confiança, entregou-lhe o menino que nascera em segundo lugar e ordenou que o fizesse desaparecer para todo o sempre. E como prova de que a sua ordem fora executada, disse ao rapaz que lhe trouxesse a língua da criança. O pajem lá partiu para cumprir a sua ordem, sentindo um nó na garganta e o estômago revolto com a crueldade. Seguia Mondego abaixo quando encontrou o seu senhor e decidiu contar-lhe tudo.

O fidalgo mandou-o arrancar a língua a um cão e levá-la a D. Branca, para que descansasse. Depois pegou no menino e foi entregá-lo a um moleiro, muito em segredo, para que o criassem sem que nada lhe faltasse, trazendo-o sempre vestido como andava o irmão.

Passou-se o tempo, e um dia, pela festa do Espírito Santo, o menino do moleiro veio à romaria. O fidalgo, D. Branca e a outra criança saíram também do seu castelo, para irem à festa. No caminho encontraram-se todos e o fidalgo, apontando a criança que o moleiro trazia em cima do burro, vestida como o seu filho, disse a D. Branca:

- Ora aqui está um menino que se parece com o nosso! Era digno de viver com ele e de ser nosso filho! D. Branca empalideceu e não disse palavra. Dentro de si estalaram todas as certezas laboriosamente construídas ao longo daqueles anos de remorsos e saudades. Percebendo que o marido sabia de tudo, pegou no menino, levou-o para casa e sentou-o à mesa, onde pela primeira vez comeu com a sua famíia. Deitou-o depois na cama com o irmão e aconchegou-lhes a roupa.

Era noite fechada quando D. Branca se aproximou como que distraída de uma das janelas do castelo. Só quando o fidalgo, sentado de costas para as janelas, em frente da lareira, ficou sem resposta a uma sua pergunta, se apercebeu de que D. Branca desaparecera. Lá em baixo brilhava ao luar o seu corpo, de costas para a vida.

Dali por diante, todas as noites andava pela margem do Mondego o fantasma branco e brilhante de D. Branca, penando no local em que mandara afogar o seu filho. Diz-se que a acompanhava o Diabo, branco e brilhante como ela, em forma de mastim.

Fernanda Frazão, Lendas Portuguesas, Amigos do Livro Editores

domingo, 18 de julho de 2010

Book of Days


excerto de Book of Days, de Meredith Monk, 1988


excerto de Book of Days, de Meredith Monk, 1988

The Tale


Meredith Monk - The Tale

Speaking in Tongues


Lisa Gerrard - Serenity




Lisa Gerrard - Come Tenderness

Arádia


VIBRAÇÃO: chackra da coroa
PALAVRAS-CHAVE: direito inato, herança, orientação celestial
PONTO ALTO: chegou o momento de reinvindicar o nosso direito inato
PONTO BAIXO: reveja as suas opiniões pessoais; hábitos e preconceitos serão questionados

Arádia - Rainha das Bruxas, reconhecida como a filha da deusa Diana - viveu supostamente na Itália, no século XIV. Também conhecida como "a Bela Peregrina", Arádia é lembrada como uma notável personalidade do seu tempo. Se Arádia de facto existiu, e não foi apenas produto da imaginação de Charles Leyland (folclorista inglês do séc.XIX), ela nasceu numa cidadezinha no norte da Itália, chamada Volterra, em 1313. Foi responsável pela difusão dos ensinamentos da Velha Religião, na Itália e além das suas fronteiras. O seu símbolo é a Chama Sagrada, o fogo perene da nossa ligação com o Espírito do Caminho Antigo.

Arádia incita-nos a reivindicar o nosso verdadeiro eu. Forças espirituais superiores reconhecem os nossos esforços e estimulam-nos a continuar a nossa busca pela iluminação espiritual. As nossas vidas e as suas circunstâncias são simplesmente reflexos do nosso mundo interior; se acreditarmos em nós mesmos e procedermos a uma reforma íntima, os reflexos alterar-se-ão.

EXERCÍCIO DE MAGIA: Cura da herança consanguínea

Comece por anotar os padrões que se evidenciam na sua vida e que espelham padrões dos seus pais ou de outros familiares - isto é a "designação". Depois de designar os padrões familiares, pode começar a responsabilizar-se por eles e a mudar a sua rotina de acordo, optando por agir da maneira correcta em vez de ser subjugado pelo condicionamento do passado.

Faça um altar de herança, juntando fotografias e pertences dos seus antepassados e cercando-os com flores, velas azuis, fósseis e pedras antigas. Mesmo que não tenha nenhum objecto de família para dispor sobre o altar, faça o exercício com a convicção de que os seus familiares estão presentes em espírito.

Evoque o Criador, O Grande Espírito, para eliminar qualquer perturbação que haja no passado da sua família. Consagre o seu caminho ancestral a três virtudes - a verdade, a integridade e a honra - e observe como a sua vida mudará em decorrência dessa cura do seu passado ancestral.


Referência bibliográfica:
MORNINGSTAR, Sally, The Wicca Book, Godsfield Press, 2001

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Lua Crescente - A Donzela




A Lua Crescente é a época que vai desde a Lua Nova até à Lua Cheia. É a fase certa para fazer encantamentos para atrair, trazer mudanças positivas, amor, sorte e crescimento. É propícia aos novos começos e às novas ideias pois é o tempo da Donzela.

A Donzela significa a juventude, a Primavera, o nascimento, as iniciações de todos os géneros. Podemos associar as deusas Diana, Branwen, Epona e Perséfone à Donzela. As suas cores são suaves e claras, como o branco, o prateado, o rosa ou o amarelo claro.

Os rituais que lhe estão associados são os que têm a ver com inícios, crescimentos, ideias, inspiração, energia, vitalidade e liberdade. Evoca-se a Donzela sempre que houver um novo começo ou quando se fazem planos para esse novo começo, quando se muda de emprego ou de casa, quando novas ideias começam a tomar forma, sempre que se planeia ou se inicia uma viragem completa ou uma nova fase na vida.

RITUAL DE LIGAÇÃO À ENERGIA DA LUA CRESCENTE: Depois de escolhermos um sítio calmo para observar a Lua, relaxemos e sintamo-nos a absorver a sua energia – a energia da esperança e da renovação. Com uma vela acesa, visualizemos uma corrente de energia entre nós e a Deusa que flui e nos enche de luz. A nossa energia aumenta à medida que Ela cresce…

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Corvo



O CORVO *


(de Edgar Allan Poe)


Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

Fernando Pessoa

* Traduzido de The Raven, de Edgard Allan Poe, ritmicamente conforme com o original.

Lua Nova


Na Lua Nova, o instinto e a intuição estão muito activos. É o tempo certo para fazer planos, para novas ideias, novas ambições, novas direcções.

Lancemos a semente para o nosso crescimento interior, para a criação do nosso Caminho…

A Lua Nova desafia-nos à expressão através da actividade, à nossa projecção no mundo. Isto pode implicar uma aprendizagem sobre aquilo que desejamos que aconteça nas nossas vidas, sobre o ideal que escolhemos perseguir, sobre a tomada de decisões necessárias à mudança naquelas áreas da nossa vida que consideramos insatisfatórias – em suma, um desafio para novos começos.

A Lua Nova é uma fase de renovação, aproveitemos pois a sua energia para tentar mudar…

 

Débussy - Claire de Lune

domingo, 11 de julho de 2010

The Little Girl Who Was Forgotten

Dark Side of the Moon



O período da Lua Negra ocorre nos últimos três dias de cada ciclo lunar. Para os antigos, este período era um símbolo da morte, mas também da regeneração… A morte encarada, não no sentido literal, mas como o fim de tudo aquilo que já não nos serve, que já não faz sentido nas nossas vidas; toda a bagagem emocional que precisamos de libertar para continuarmos a evoluir.

É um tempo de repouso e introspecção, um tempo de pausa que nos convida à serenidade e à calma. Ler, meditar, ouvir música, escrever, o que quer que nos sirva para reflectir e nutrir o espírito…

Algumas tradições sustentam que a Lua Negra é tão poderosa como a Lua Cheia e que é a altura ideal para trabalhos de magia negra…



A Lua Negra há muito que é associada ao Outro Mundo, à esfera do inconsciente, do mistério e do medo nas nossas almas – a Sombra. A Sombra – termo psicológico intoduzido por Carl Jung, é tudo aquilo que mantemos no nosso inconsciente, reprimido e negado. Todos nós temos uma Sombra, um lado negro, um “Mr. Hyde”. Quanto mais o evitamos, mais poder lhe damos…

Esta fase do ciclo lunar oferece-nos a oportunidade da renovação, de experimentar o desconhecido e de ganhar sabedoria interior. A porta do passado é aberta… para lidarmos com tudo aquilo que nos oprime e nos impede de desenvolver o nosso potencial. Precisamos então de nos purificarmos, de libertarmos o velho e o desnecessário para dar espaço ao novo…

A Lua Negra tem um poder lendário para a criação, propícia para conceber, sonhar, desejar, mas não ainda para passar à acção… Primeiro a ideia…

RITUAL DE LIBERTAÇÃO: acendamos uma vela negra. As velas negras despertam o inconsciente e ajudam a banir o mal e o negativismo das nossas vidas. Invoquemos e/ou visualizemos aquilo que nas nossas vidas já não faz sentido e que estamos prontos a abrir mão. Através da visualização juntemos esses elementos num “embrulho” que se move em direcção à vela. Observemos o “embrulho” a ser devorado pela chama e deixemos a vela apagar-se. Aquilo que libertámos, deixou-nos…



PJ Harvey - Dear Darkness

terça-feira, 6 de julho de 2010

Faeries


Faeries (Brian Froud Animated Special)- Part One


Faeries (Brian Froud Animated Special)- Part Two


Faeries (Brian Froud Animated Special)- Part Three

Fantasia


Walt Disney - Fantasia - Mickey The Sorcerer's Apprentice

Night on Bald Mountain


Walt Disney - Fantasia - Night on Bald Mountain

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A Anciã


VIBRAÇÃO: chackra da coroa
PALAVRAS-CHAVE: sabedoria, desprendimento, maturidade
PONTO ALTO: a vida está em processo de mudança; tome em conta a sua sabedoria
PONTO BAIXO: desafie o seu pequeno eu; não há necessidade de continuar no escuro

A Anciã é um dos três aspectos da Deusa Tríplice (Donzela / Mãe/ Anciã). Dotada da sabedoria dos anos, ela representa a morte ou o aspecto da evolução relacionado com o desprendimento. Entre as deusas anciãs estão Hécate, Cerridwen, Medusa, Nepthys e Holda. A energia da Anciã é uma parte vital da mudança. Sem desprendimento, não pode haver progresso.

A Anciã chama-nos a um lugar de sabedoria, convida-nos a mergulhar dentro de nós e a livrarmo-nos de qualquer apego ao mundo exterior. Deste modo poderemos ampliar o nosso entendimento acerca das experiências que vivemos e descobrirmos o sentido das nossas vidas.

A maturidade necessária para que isso aconteça não deixa espaço para padrões emocionais ou processos de raciocínio conhecidos; ela usa cada oportunidade para ver além das ilusões do pequeno eu e vislumbrar uma realidade mais ampla.

A Anciã aconselha-nos a deixar o passado para trás e a permitir que a vida siga o seu curso.

EXERCÍCIO DE MAGIA: Invocar a Luz

Quando a situação parecer sombria e desesperadora, acenda uma vela. Ao fazer isso, invoque os poderes da luz para que ela ilumine o seu caminho. Fite a chama da vela e imagine que essa luz brilha dentro de si.


Referência bibliográfica: 
MORNINGSTAR, Sally, The Wicca Book, Godsfield Press, 2001

A Anciã - Jig of Life


Kate Bush - Jig of Life

JIG OF LIFE


Hello, old lady.
I know your face well.
I know it well.
She says,
"Ooh-na-na-na-na-na-na-na-na!
I'll be sitting in your mirror.
Now is the place where the crossroads meet.
Will you look into the future?

"Never, never say goodbye
To my part of your life.
No, no, no, no, no!
Oh, oh, oh,
"Let me live!"
She said.
"C'mon and let me live, girl!"
She said,
"C'mon and let me live, girl!"
("C'mon and let me live!")

"This moment in time,"
(She said.)
It doesn't belong to you,"
(She said,)
It belongs to me,

"And to your little boy and to your little girl,
And the one hand clapping:
Where on your palm is my little line,
When you're written in mine
As an old memory?

Ooh, na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-na-
"Never, never say goodbye
To my part of your life.
Oh no, no, no, no, no!
Never, never, never!
Never, never let me go!"

She said,
"C'mon and let me live, girl!'
("C'mon and let me live!")
She said,
"C'mon and let me live, girl!"
("C'mon and let me live!")

I put this
moment..............................................here.
I put this moment.........................here.
I put this moment--
"Over here!
"Over here!

Can't you see where memories are kept bright?
Tripping on the water like a laughing girl.
Time in her eyes is spawning past life,
One with the ocean and the woman unfurled,
Holding all the love that waits for you here.
Catch us now for I am your future.
A kiss on the wind and we'll make the land.
Come over here to where When lingers,
Waiting in this empty world,
Waiting for Then, when the lifespray cools.
For Now does ride in on the curl of the wave,
And you will dance with me in the sunlit pools.
We are of the going water and the gone.
We are of water in the holy land of water
And all that's to come runs in
With the thrust on the strand."

Lua Minguante - A Anciã


A Lua Minguante é a época que vai desde a Lua Cheia até à Lua Nova. É um tempo de intuição profunda, indicado para a adivinhação. É o tempo da Anciã.

A Anciã encarna a sabedoria da idade madura, os segredos, a adivinhação, a profecia, a compaixão, os finais, a morte e o renascimento. É a mulher sábia que aconselha e trata dos problemas da comunidade. Age sempre com lógica mas pode ser terrível na vingança.

É também a guardiã da passagem para a dimensão da morte. Associada a ela estão as deusas Hécate, Cailleach, Morrigan e Kali, e também as Banshee irlandesas.

As suas cores tradicionais são o preto, o cinzento, o roxo, o castanho ou o azul escuro.

Os rituais que evocam a Anciã destinam-se a remover energias indesejáveis, alcançar a sabedoria e a clarividência. São também indicados para inverter circunstâncias, para todos os processos que terminam, como no fim de relacionamentos, empregos e amizades, na menopausa, no divórcio, para reunir as energias necessárias ao fim de um ciclo, durante uma pausa antes de iniciar novos objectivos ou planos, na morte de uma pessoa ou de um animal, em contrariedades de qualquer tipo, na retribuição aos inimigos, quando se pretende justiça, quando se precisa de uma protecção forte contra ataques a nível físico ou psíquico, para entender os mistérios mais profundos e mesmo para desenvolver uma ligação ou comunicar com os guias ou os espíritos.

Na Idade Média, a sua sabedoria era temida pela Igreja; e assim a Anciã tornou-se o arquétipo da Bruxa Malvada e da mocréia dos contos de fadas. Na sociedade de hoje em que Juventude e Beleza são idolatradas, a Anciã pode ser encarada com temor e equívoco se só vista como símbolo da decadência e da morte… mas a morte é só parte de um ciclo… e nem sempre física.

A Anciã traz a dádiva da libertação relativamente a padrões que restringem e controlam as nossas vidas. A sua energia é a do desprendimento, do desapego e da introspecção fazendo-nos encarar os nossos medos, problemas, raivas, angústias e dúvidas – as nossas sombras. Através dela ganhamos sabedoria à medida que aprendemos as lições trazidas pelas nossas experiências.

A Anciã encoraja-nos a sermos livres mostrando-nos a força e a coragem que todos temos no nosso interior.

Reflexão com a Anciã: O que está a chegar ao fim na minha vida? O que é que eu procuro manter apesar de ser tempo de largar? Estou receptivo ao novo? O que é que desejo que a vida me traga? Em que projectos gostaria de me envolver?

domingo, 4 de julho de 2010

A Lenda dos Marinhos

Um fidalgo da Terra de Valadares, junto à Galiza, de nome D.Froiaz, que era caçador e monteiro-mor, andava um dia a cavalo, perto do mar, correndo atrás de um veado, quando avistou da encosta de um monte uma belíssima mulher adormecida sobre a areia. Aproximando-se sem que ela desse por isso, viu espantado que a muher era nada menos do que uma sereia.

Sentindo-se observada no seu sono pausado e sem sonhos, a sereia acordou sobressaltada e procurou escapar-se para o mar. Porém, dois dos escudeiros de D.Froiaz barraram-lhe o caminho e agarraram-na. Defendeu-se o melhor que pôde, usando as mãos,dando golpes com a cauda, mas de nada lhe valeu, porque num ápice os braços dos homens fecharam-se sobre ela e achou-se presa em cima do cavalo e coberta por um gibão.

D.Froiaz levou-a para o castelo. Ia encantado com aquele ser que o mar trouxera. Pediu ao capelão que a baptizasse e escolheu-lhe o nome de Marinha, a dona vinda do mar. Tão formosa era D. Marinha que o cavaleiro passou a viver com ela como se sua mulher fosse e dela lhe nasceu o primogénito.

Como os peixes, D.Marinha era muda. Apesar dos infindos esforços de D.Froiaz, que não se poupou a trabalhos, não conseguiram que D.Marinha articulasse um som sequer. No entanto, os olhos da sereia eram um mar de palavras desnecessárias, revoltos de amor, encapelados de ternura. D.Marinha não precisava falar, mas a D.Froiaz faltava-lhe ouvi-la humana.

Na véspera de S.João, pela tarde, alvoroçou-se o castelo com os preparativos para os festejos nocturnos. Tinham juntado lenha em grandes pilhas e começavam a acender as tradicionais fogueiras que deveriam consumir a noite. Bois e carneiros estavam já esfolados e enfiados em grandes espetos assando lentamente com o rodar das horas.

D.Marinha andava passeando pelo terreiro com o filho nos braços, observando
aqueles preparativos totalmente novos, completamente desconhecidos para si.
De súbito D.Froiaz arrancou-lhe o menino dos braços e fez menção de o atirar ao fogo. Enlouquecida, a sereia soltou um guincho estridente de gaivota ferida e bradou:
- Filho!!

Com o guincho saltou-lhe da boca um bocado de carne que a impedia de falar, mas não de olhar. A partir daí, D. Marinha passou a dizer tudo naturalmente e acabou esquecendo a linguagem silenciosa e vital do mar.

D.Froiaz casou com ela e em memória deste dia a que chamou feliz, baptizou a criança com o nome de João Froiaz Marinho.

Foi este o primeiro dos Marinhos, como foi o primeiro filho de D.Froiaz e de D.Marinha. A sua casa era muito perto da Galiza, na Terra de Valadares, e chamavam-lhe Torre dos Marinhos.

Fernanda Frazão, Lendas Portuguesas, Amigos do Livro Editores


Fotografia de Toni Frissell

The Wizard of Oz


The Wizard of Oz, 1939

Quarto minguante



A fase do Quarto Minguante dura dois dias.Esta é a altura para cumprirmos acordos, compromissos que tenhamos feito com outros. Devemos concentrar-nos nas tarefas que temos em mãos pois se o tentarmos evitar, poderemos ser confrontados e apanhados em falta.

É portanto uma altura que pode ser bastante gratificante se se verificarem progressos, ou pode ser desagradável se permitirmos a acumulação de situações que nos exijam algo. De qualquer modo, somos confrontados com a realidade de como nos inserimos no mundo e com as consequências dos nossos actos.

Apesar de gostarmos de pensar que somos independentes, na verdade, as nossas vidas estão, em grande parte, dependentes de outros… e se tivermos agido como vítimas, podemos, de facto, sofrer as consequências, nesta altura. O que está feito, feito está. Olhemos para a frente. A aproximação da Lua Nova traz a semente de novas possibilidades.

sábado, 3 de julho de 2010

Os Inocentes

The Innocents é um filme de 1961, baseado na novela The Turn of the Screw de Henry James, e realizado e produzido por Jack Clayton.

Miss Giddens é contratada para cuidar de Flora e Miles, dois irmãos que ficaram órfãos em circunstâncias misteriosas. Com o passar do tempo, Giddens acredita que existe um perigo oculto nas trevas da mansão, fazendo com que as crianças, aparentemente inocentes demais para cometer algum mal, tenham um comportamento muito assustador.


The Innocents, de Jack Clayton, 1961

Spellbound

Emily Jane Bronte

The night is darkening round me,
The wild winds coldly blow;
But a tyrant spell has bound me
And I cannot, cannot go.

The giant trees are bending
Their bare boughs weighed with snow.
And the storm is fast descending,
And yet I cannot go.

Clouds beyond clouds above me,
Wastes beyond wastes below;
But nothing dear can move me;
I will not, cannot go.


The Innocents, de Jack Clayton, 1961

Sweet melody


Isla Cameron - O Willow Waly em The Innocents, de Jack Clayton, 1961
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